“Mas vós vede; eis que de antemão vos tenho dito tudo.”
(Marcos 13:23)
Muito embora seja um assunto de suma importância para a vida cristã e para o fortalecimento da igreja, o estudo profético (em especial das profecias relacionadas aos acontecimentos nos últimos tempos) não é comumente aprofundado e encorajado na comunidade cristã. Tende-se a enxergar como uma “doutrina secundária”, que não faz parte do “pacote básico” do saber teológico popular. Essa realidade em parte é compreensível devido à complexidade e divergência de interpretações do contexto escatológico.
Em teologia, chamamos de escatologia ao estudo dos últimos acontecimentos da história humana conforme profetizado nas Escrituras, ou seja, a doutrina das últimas coisas. A palavra escatologia deriva do grego escathos, que significa “último”. É através da escatologia que podemos aprofundar nosso aprendizado sobre os juízos de Deus, os eventos que se anteciparão à volta de Cristo, e os planos de Deus para a humanidade. As profecias que se cumprirão no futuro são uma parte indispensável da revelação de Deus ao homem (uma prova disso é a quantidade de conteúdo profético que encontramos nas Escrituras!) e não podem ser ignoradas.
Neste artigo estaremos pincelando um panorama geral sobre a escatologia, e abordaremos resumidamente os seus principais assuntos de estudo, em especial os métodos de interpretação e os distintos conceitos teológicos relacionados ao milênio.
Por que a escatologia é importante?
Conforme mencionamos anteriormente, as Escrituras possuem um extenso material profético referente aos acontecimentos finais na história, então pode-se dizer que estudar escatologia é conhecer mais a respeito da revelação de Deus. Desde Gênesis até Apocalipse, é comum encontrarmos expressões como “últimos dias” ou “dias vindouros”, ou outras que expressam a mesma ideia. Também há livros bíblicos que são completamente escatológicos, como o livro do profeta Daniel.
Além disso, o conhecimento escatológico possui uma aplicabilidade prática para o nosso dia a dia, nos deixando alertas para a volta iminente de Cristo, incentivando-os a adotar uma postura de vigilância e santificação. As advertências do Senhor e os sinais proféticos nos encorajam a estarmos preparados para seu retorno. Por fim, conhecer os acontecimentos que se desencadearão no futuro nos ajuda a compreender melhor o propósito de Deus para a humanidade e para a sua criação.
Nas palavras de John F. Walvoord: “A escatologia bíblica é o ponto culminante da teologia sistemática. Não é apenas o clímax, o desfecho e a consumação do estudo teológico, mas a apresentação da escatologia é também a suprema demonstração de habilidade teológica. Na escatologia são expostas as importantes ferramentas de exegese, da síntese, da hermenêutica e do sistema teológico.”.
Métodos de interpretação
Os resultados do estudo escatológico dependem basicamente do método de interpretação utilizado, cujos principais são o método alegórico e o método literal (ou histórico-gramatical). A questão de qual método deve ser empregado e qual produz os resultados mais corretos é objeto de discussão até hoje, como bem observou Pieters: “Enquanto não houver acordo quanto a essa questão [qual método empregar], o debate será interminável e infrutífero.”. É fundamental identificar as diferenças entre os métodos, suas origens e o desenvolvimento ao longo da história.
O método alegórico
Neste método a interpretação do texto ocorre considerando-se seu sentido literal apenas como uma ponte voltada para um sentido mais amplo, secundário, profundo, de natureza espiritual. Outra característica marcante é a negação, rejeição ou desprezo do significado histórico do texto, diminuindo o significado das palavras. Cada palavra ou acontecimento é transformado em alegoria de algum tipo, geralmente com a intenção de responder a certas dificuldades teológicas ou fundamentar crenças doutrinárias.
As origens do método alegórico remonta a Aristóbulo, que serviu de inspiração para Filo, judeu platônico, que tentou conciliar a lei mosaica com a filosofia grega, de modo que a primeira se tornasse aceitável à segunda. Para Filo, a filosofia grega era a mesma coisa que a filosofia de Moisés. Ele tentou harmonizar a religião judaica com filosofia clássica. O método foi posteriormente desenvolvido por Orígenes, que foi o primeiro a formular uma teoria formal de interpretação baseada no método de Filo. Posteriormente, com a ascensão do eclesiasticismo, Agostinho levou adiante as bases de Orígenes e amadureceu a abordagem de interpretação espiritualista. Ele foi o primeiro a fazer com que as Escrituras se conformassem à interpretação da igreja.
O método literal
Opondo-se diretamente ao método alegórico está o método literal ou histórico-gramatical. Pode ser definido como um método que dá a cada palavra o mesmo sentido básico e exato que teria no uso costumeiro, normal, cotidiano, empregada de modo escrito, oral ou conceitual. O nome “histórico-gramatical” diz respeito a ressaltar o conceito de que o sentido deve ser apurado mediante considerações históricas e gramaticais. Outras características deste método são: Baseia a sua interpretação em fatos (norteia-se em dados objetivos, gramática, lógica, etimologia, história, geografia, arqueologia, etc.), exerce sobre a interpretação um controle semelhante ao que a experiência exerce sobre o método científico (qualquer coisa que não se conforme aos cânones do método literal-cultural-crítico deve ser rejeitada ou vista com suspeita) e também oferece a única fiscalização fidedigna para a constante ameaça de aplicar uma interpretação de duplo sentido às Escrituras.
Existem boas evidências para afirmar que este método era utilizado pela igreja primitiva (considerado uma tradição apostólica pelos pais da igreja dos segundo e terceiro séculos), mas que foi gradualmente abandonado após a forte influência de teólogos como Orígenes e Agostinho (este último definindo o “padrão” de interpretação na igreja católica).
Todavia, após o período da reforma protestante, houve um expressivo retorno ao método literal, e muitos estudiosos passaram a buscar o sentido literal dos textos sagrados. Este método possibilitou a solução de certos problemas teológicos, como por exemplo, a interpretação do termo “Israel”, o qual o método alegórico tende a desconsiderar o âmbito étnico da descendência abraâmica e aplicar exclusivamente à igreja. No método de interpretação literal, o termo “Israel” refere-se à nação israelense, que é distinto da igreja, com profecias exclusivas para esse povo.
O milênio
O ponto culminante de toda a Escritura converge para a segunda vinda do Senhor Jesus Cristo ao mundo, que é o momento onde serão cumpridos todos os propósitos de Deus pelos quais Seu Filho veio ao mundo. A redenção terá sido realizada e a soberania terá sido manifestada na terra. O fenômeno da segunda vinda de Cristo está vinculado ao conceito da era milenar, ou o milênio, que é a crença de que Cristo retornará para reinar por mil anos (Apocalipse 20.1-6) juntamente com os salvos num período de paz e prosperidade. O entendimento deste conceito varia de acordo com o método de interpretação.
Conceito pré-milenista
É chamado de pré-milenismo porque interpreta que a segunda vinda de Jesus ocorrerá antes do período milenar. O conceito pré-milenista segue o método de interpretação literal. Por conseguinte, uma de suas principais características é o fato de fazer distinção entre o Israel étnico (nação israelense) e a igreja (os salvos em Cristo), havendo profecias futuras que se aplicam para cada grupo especificamente. O pré-milenismo defende um governo de Cristo literal, um reino aqui na terra onde Jesus reinará corporalmente durante mil anos. É nesse reino que todas as alianças de Israel serão literalmente cumpridas.
No milênio, Jesus será reconhecido por todos os governantes das nações, das quais regerá “com vara de ferro” (Apocalipse 2.27). As nações desobedientes serão castigadas, como está no texto de Isaías 60.12 e em Zacarias 14.17. Dentre outras características do período milenar na concepção pré-milenista, pode-se citar a prisão de Satanás (Apocalipse 20), mudanças nas condições sociais, nas condições da natureza e nas condições políticas entre as nações. Depois do reino milenar de Cristo, o Filho dará o reino ao Pai e se fundira com Seu reino eterno.
Conceito pós-milenista
Este conceito, que segue o método de interpretação alegórico, interpreta a volta de Cristo à terra somente após o milênio. Entretanto, existem outras características que o diferem do conceito pré-milenista. O pós-milenismo não reconhece o período conhecido como a grande tribulação e trabalham com conceitos diferentes a respeito do anticristo. Os defensores do pós-milenismo acreditam que a igreja implantará no mundo uma era de predomínio cristão (apesar de não necessariamente se tratar de um período de exatos mil anos) que ocorrerá de forma gradual e não instantânea. Nesse período haverá uma atuação expressiva do papel da igreja na sociedade, a fim de moldá-la aos padrões divinos, atingindo seu ápice na “era milenar” de paz e justiça sobre a terra. Após a “era milenar”, ocorrerá o retorno de Cristo à terra e a ressurreição tanto de cristãos quanto de incrédulos para o juízo final e o estabelecimento de um novo céu e uma nova terra. A partir desse ponto se inicia um “estado eterno”.
Na concepção pós-milenista, o mundo está se tornando um lugar melhor, como pode ser visto no predomínio da democracia, na preocupação com o bem-estar do ser humano, o fim da escravidão, etc. Logo, pode-se dizer que a principal característica deste conceito é o fato de ser bastante otimista acerca do poder do evangelho para transformar vidas e estabelecer o bem no mundo. É justamente por esse otimismo que após a segunda guerra mundial o pós-milenismo entrou em colapso devido à degradante situação moral da humanidade e toda outra série de fatores, e desde a época do pós-guerra até a atualidade tem havido uma expressiva diminuição de seus defensores.
Conceito amilenista
O amilenismo deriva do trabalho de Agostinho, que foi o primeiro grande expoente deste conceito e cujo ponto de vista se tornou a doutrina dominante da igreja católica, sendo adotado posteriormente por vários reformadores protestantes. Neste conceito, que se fundamenta no método de interpretação alegórico, não haverá um milênio literal na terra após o segundo advento. Todas as profecias a respeito do reino estão sendo cumpridas espiritualmente pela igreja no período entre os dois adventos.
Assim, seu caráter mais geral é a negação do reinado literal de Cristo na terra. No pensamento amilenista, imagina-se que Satanás tenha sido preso na primeira vinda de Cristo. A presente era, entre o primeiro e segundo advento, é o cumprimento do milênio. Há uma discreta discordância entre amilenistas que acreditam no cumprimento do milênio na terra (inspirados por Agostinho) e os que acreditam no cumprimento do milênio pelos santos no céu (inspirados em Warfield).
Pode-se resumir o conceito amilenista na ideia de que não haverá mais milênio do que há agora, e que o estado eterno se segue imediatamente à segunda vinda de Cristo. Essa teoria assemelha-se ao pós-milenismo quando afirma que Cristo virá depois do que eles consideram ser o milênio.
Conceitos e terminologias importantes
Existe uma série de conceitos e terminologias que são fundamentais para o entendimento escatológico, e cujo correto entendimento serve como requisito para o estudo de outros conceitos mais avançados. Assim sendo, vamos apresentar aqui uma relação resumida dos conceitos mais relevantes que servirá de ponto de partida para o estudante de escatologia.
- Dispensação
Conceito no qual se deriva o dispensacionalismo. As dispensações estão associadas com períodos em que as pessoas foram submetidas a provas específicas e variadas de sua obediência a Deus, do começo ao final da história humana. Trata-se de uma revelação progressiva e conexa da forma como Deus trata com o homem, revelação que, às vezes, é dada a toda a raça e, em outras, a um povo em particular (Israel). Estas diferentes dispensações não são caminhos separados de salvação. Durante cada dispensação, o homem se reconcilia com Deus somente de uma maneira: Pela Graça de Deus por meio do sacrifício expiatório de Cristo, ao crer na revelação que lhe havia sido dada até aquele momento.
O propósito de cada dispensação, portanto, é colocar o homem sob uma regra de conduta específica, mas tal mordomia não é uma condição para a salvação. Em cada dispensação passada, o homem não regenerado fracassou, e tem fracassado na presente dispensação e fracassará no futuro. Mas ele tem encontrado e continuará encontrando a salvação pela graça de Deus por meio da fé. Geralmente são distinguidas 7 dispensações: A da inocência (Gênesis 1.28), da Responsabilidade Moral (Gênesis 3.7), do Governo Humano (Gênesis 8.15), da Promessa (Gênesis 12.1), da Lei (Êxodo 19.1), da Igreja (Atos 2.1) e do Reino (Apocalipse 20.4).
- A Presente Era
A presente era, que começa com a rejeição do Messias por Israel até a recepção vindoura do Messias por Israel no Seu segundo advento, é vista nas Escrituras como um mistério. Paulo deixa isso claro em Colossenses 1.24-29: “… O mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos; aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória.”. O período desde a rejeição do Messias por Israel até Sua recepção por Israel no Seu segundo advento é apresentado em duas partes da Palavra: Mateus 13 e Apocalipse 2 e 3.
Dentre as diferenças entre a presente era e as eras anteriores, podemos citar que em todas as eras anteriores, Cristo foi esperado, mas na presente era Ele não só veio, mas morreu, ressuscitou e é visto à direita do Pai. O Espírito Santo, que em eras anteriores enchia de poder certos homens para que realizassem determinada tarefa, passou a residir em todos os crentes. E, ademais, a revelação em eras passadas era incompleta, mas, na presente era, já que Cristo veio para revelar o Pai, está completa.
- O Reino de Deus
O plano divino para o reino ocupa grande parte das Escrituras. No entanto, a despeito de tudo o que as Escrituras dizem sobre o assunto, quem as estuda depara com grande variedade de interpretações e explicações quanto à natureza e ao propósito do plano divino para o reino.
Para alguns, o reino de Deus é sinônimo do estado eterno, ou do céu ao qual alguém chega após a morte, de modo que não existe nenhuma relação com a terra. Para outros, o reino é imaterial ou espiritual, no qual Deus governa sobre o coração dos homens de forma que, ao mesmo tempo em que está relacionado à presente era, o reino não está relacionado à terra. Para outros ainda, o reino é simplesmente terreno, sem realidades espirituais vinculadas, uma estrutura política e social a ser alcançada pelo esforço dos homens. Há também quem interprete o reino como relacionado a um movimento nacionalista por parte de Israel que tenta reconstituir a nação como independente no âmbito político.
Por fim, existe também a interpretação de que o reino seria um sinônimo da igreja organizada visível, de modo que ela se transforma em reino, atribuindo um caráter espiritual e político.
- O Dia do Senhor
Também chamado de “aquele dia” e “o grande dia”, é o período prolongado de tempo que se inicia com o retorno do Senhor na sua glória e termina com a destruição dos céus e da terra pelo fogo, preparando novo céu e nova terra (Isaías 65.17-19; 66.22; 2 Pedro 3.13; Apocalipse 21.1).
Dessa maneira o dia do Senhor abrangeria o período que vai do retorno de Cristo à terra até o novo céu e a nova terra, depois do milênio. Outro entendimento desse conceito é apresentado por Ironside, que diz: “…Quando finalmente o dia de graça terminar, o dia do Senhor o sucederá […] O dia do Senhor segue [o arrebatamento]. Será o tempo em que os juízos de Deus são derramados sobre a terra. Isso inclui a vinda do Senhor com todos os seus santos para executar julgamento sobre Seus inimigos e tomar posse do reino…e reinar em justiça por mil anos gloriosos.”.
- O Arrebatamento
A presente era, em relação à verdadeira igreja, termina com a transladação da igreja à presença do Senhor. A doutrina da transladação da igreja é uma das considerações mais importantes da escatologia do Novo Testamento (João 14.1-3; 2 Tessalonicenses 4.13-18; 1 Coríntios 1.8; Filipenses 3.20,21). Baseado no texto de 1 Tessalonicenses 4.16 e 17, sabemos que o arrebatamento é o dia em que Jesus Cristo virá dos céus para buscar a sua Igreja, quando, então os fiéis que já morreram serão ressuscitados e nós, que estivermos vivos, seremos elevados para nos encontrarmos com Jesus nas nuvens.
Não há dúvidas de que o advento da volta de Cristo para consumar o arrebatamento da Igreja é o evento mais esperado pelos cristãos ao longo dos séculos. Segundo as Escrituras, o arrebatamento será um acontecimento repentino e o momento exato só é conhecido por Deus.
- A Grande Tribulação
A grande tribulação é uma expressão bíblica, tirada de Apocalipse 7.14, que se refere a um período de sete anos (cuja primeira metade será mais branda) amplamente profetizado e descrito tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. No Antigo, é descrita como “dia do Senhor” ou “dia da ira”. E esse dia é tratado como um período de angústia e dor, como nunca houve em nenhum outro período da história humana (Daniel 12.1). Também haverá grandes catástrofes e pragas enviadas ou permitidas por Deus (Marcos 13.19; Lucas 21.25,26; Apocalipse 6.1-8,12-17;16.1). Nas palavras de Jesus, nem antes nem depois será encontrado algo igual (Mateus 24.21; Marcos 13.29).
Existem três principais correntes de interpretação em relação a este conceito:
-
-
- O pré-tribulacionismo, o qual defende a ideia de que a igreja não passará pelo sofrimento da grande tribulação. Antes, a igreja se livrará da grande tribulação por causa das promessas de Deus (Isaías 57.1; 2 Tessalonicenses 2.7; Apocalipse 3.10). Após o arrebatamento dos salvos, o mundo ficará entregue ao poder do anticristo (1 Tessalonicenses 5.1-6; 2 Tessalonicenses 2.3-12; Apocalipse 13), o que dará início à grande tribulação. Este posicionamento encontra os fundamentos de sua interpretação no dispensacionalismo.
- O pós-tribulacionismo, o qual defende a ideia de que os eventos narrados em 1 Tessalonicenses 4.13-18 ocorrerão somente ao término da grande tribulação, portanto, a igreja estaria presente na terra durante o período tribulacional, embora sendo protegia de seus aspectos mais terríveis.
- O mesotribulacionismo, o qual defende que a igreja permanecerá na terra durante o período mais brando da tribulação; ou seja, os três anos e meio iniciais. Esse tempo é uma referência aos 42 meses, citado em Apocalipse 11.1,2. A teoria do mesotribulacionismo é essencialmente uma via média entre as posições pós e pré-tribulacionistas.
- O pré-tribulacionismo, o qual defende a ideia de que a igreja não passará pelo sofrimento da grande tribulação. Antes, a igreja se livrará da grande tribulação por causa das promessas de Deus (Isaías 57.1; 2 Tessalonicenses 2.7; Apocalipse 3.10). Após o arrebatamento dos salvos, o mundo ficará entregue ao poder do anticristo (1 Tessalonicenses 5.1-6; 2 Tessalonicenses 2.3-12; Apocalipse 13), o que dará início à grande tribulação. Este posicionamento encontra os fundamentos de sua interpretação no dispensacionalismo.
-
- A batalha do Armagedom
O termo Armagedom significa “vale do Megido”. Megido ou Esdrelon é uma planície de Israel, em Samaria, na região da Palestina. Esse vale foi palco de sangrentas guerras no passado. Em sentido profético, Armagedom significa “derrubar”, “matar”, “cortar”, “decepar” e “lugar de mortandade”. Esse lugar também é chamado de “lagar” (Apocalipse 14.20).
Os principais versículos que tratam a respeito da profecia do Armagedom encontram-se em Apocalipse 16.16, Jeremias 25.31, Sofonias 3.8 e Zacarias 14.2-5. A partir desses versículos, vemos que se trata de uma guerra centralizada na terra de Israel, porém com desdobramentos para todo o mundo (Jeremias 25.31).
Existem estudiosos que rejeitam a ideia de uma batalha literal, quando as tropas fiéis do anticristo estariam realmente marchando em direção a Israel. Mas há predominância na crença de que haverá, de fato, uma grande batalha mundial, envolvendo cristãos e anticristãos; uma guerra de grandes proporções como jamais ocorreu na história humana. Neste último caso, o Senhor Jesus interviria num momento crucial, aniquilando o anticristo e seus exércitos, ocasião em que também muitos judeus se converteriam e seriam salvos.
- O Anticristo
A palavra anticristo aparece somente nas Epístolas de João. É usada em 1 João 2.18,22, 4.3 e 2 João 7. Já o conceito de anticristo, que representa alguém que seria o inverso do ungido (o Messias) que viria para enganar e afligir a raça humana, se encontra em diversas passagens nas Escrituras. O apóstolo Paulo faz referência ao anticristo chamando-o de “homem do pecado, filho da perdição” (2 Tessalonicenses 2.3) e “iníquo” (v.8). Para tanto, ele cita Isaías 11.4, o que demonstra que o conceito de anticristo tinha raízes já no Antigo Testamento.
No capítulo 13 de Apocalipse se delineia com maior exatidão o perfil do anticristo, referenciando-o como um governante soberbo, destruidor do povo de Deus, cheio de autoridade maligna, com o qual consegue seduzir o mundo inteiro. Uma observação que cabe ressaltar é que tanto o apóstolo Paulo quanto João apresentam o conceito de anticristo como alguém que vem ou como uma força já presente (2 Tessalonicenses 2.3, 1 João 4.3).
- A Besta
As Escrituras falam muito sobre o indivíduo que aparecerá no fim dos tempos como cabeça dos poderes gentílicos. Sua pessoa e seu trabalho são apresentados em Ezequiel 28.1-10; Daniel 7.7,8,20-26; 8.23-25; 9.26,27; 11.36-45, 2 Tessalonicenses 2.3-10; Apocalipse 13.1-10; 17.8-14.
Dentre algumas características desse indivíduo conhecido como “a besta”, podemos citar: Entrará em cena nos últimos dias da história de Israel e não aparecerá até o dia do Senhor ter começado. Sua manifestação está sendo atualmente impedida e seu aparecimento será precedido por um afastamento, que pode ser interpretado como um afastamento da fé ou um afastamento dos santos para a presença do Senhor. A besta será de origem gentílica e surgirá do Império Romano. Será o governador de todas as nações e terá uma influência mundial.
Cabe ressaltar também que o surgimento da besta se dará por meio de um plano de paz, e posteriormente introduzirá uma adoração idólatra na qual se colocará como deus. Receberá autoridade de Satanás e será controlado por ele.
- O Falso Profeta
Associado diretamente à besta, há outro indivíduo, conhecido como o “falso profeta” (Apocalipse 19.20; 10.10), chamado de “a segunda besta” em Apocalipse 13.11-17, em que é dada sua descrição completa. Essa passagem das Escrituras mostra alguns importantes fatores relacionados que devem ser observados: Ele é evidentemente um judeu. É influente nos negócios religiosos, como é a primeira besta. Tem uma autoridade delegada e promove a adoração da primeira besta, sendo capaz de convencer a terra a adorar a primeira besta como se fosse Deus.
Seu ministério é autenticado pelos sinais e milagres que faz, evidentemente provando que ele é o Elias que estava por vir. Por fim, tem sucesso em enganar o mundo incrédulo. O falso profeta é o indivíduo que ministrará juntamente com a primeira besta como seu profeta ou porta-voz.
Conclusão
Como podemos concluir deste artigo, a escatologia possui um vasto campo para aprofundamento, pesquisa e análise. Possui pontos polêmicos e divergentes que precisam ser tratados com um cuidado especial, principalmente considerando a questão da interpretação. Assim, estamos lidando com uma doutrina que exige um julgamento refinado para discernir o que deve ser interpretado à letra em contraposição ao que deve ser interpretado de forma espiritual e alegórica.
Esperamos que o conteúdo apresentado aqui possa ter despertado nos leitores o interesse pela matéria, provocado o alerta sobre sua importância e principalmente introduzido assuntos que fortalecerão suas vidas espirituais. Esta exposição foi apenas um pontapé inicial e imparcial no conteúdo escatológico. Nos próximos artigos estaremos abordando alguns tópicos mencionados aqui em maior destaque e profundidade, assim como outros que não foram incluídos nesta introdução.
Referências bibliográficas
✔️ PENTECOST. J.Dwight. Manual de Escatologia. Editora Vida.
✔️ SCOFIELD. C.I. Bíblia de Estudo Scofield. Sociedade Trinitariana do Brasil.
✔️IRONSIDE. H.A. The Mysteries Of God. Kessinger Publishing.
✔️ PIETERS. Albertus. The Leader, 5 Sept., 1934, ap. Gerrit H. HOSPERS, The principle of spiritualization in hermeneutics, p.5.