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Introdução a Escatologia

Créditos da imagem: E.Diop

“Mas vós vede; eis que de antemão vos tenho dito tudo.”

(Marcos 13:23)

Muito embora seja um assunto de suma importância para a vida cristã e para o fortalecimento da igreja, o estudo profético (em especial das profecias relacionadas aos acontecimentos nos últimos tempos) não é comumente aprofundado e encorajado na comunidade cristã. Tende-se a enxergar como uma “doutrina secundária”, que não faz parte do “pacote básico” do saber teológico popular. Essa realidade em parte é compreensível devido à complexidade e divergência de interpretações do contexto escatológico. 

Em teologia, chamamos de escatologia ao estudo dos últimos acontecimentos da história humana conforme profetizado nas Escrituras, ou seja, a doutrina das últimas coisas. A palavra escatologia deriva do grego escathos, que significa “último”. É através da escatologia que podemos aprofundar nosso aprendizado sobre os juízos de Deus, os eventos que se anteciparão à volta de Cristo, e os planos de Deus para a humanidade. As profecias que se cumprirão no futuro são uma parte indispensável da revelação de Deus ao homem (uma prova disso é a quantidade de conteúdo profético que encontramos nas Escrituras!) e não podem ser ignoradas.

Neste artigo estaremos pincelando um panorama geral sobre a escatologia, e abordaremos resumidamente os seus principais assuntos de estudo, em especial os métodos de interpretação e os distintos conceitos teológicos relacionados ao milênio.


Por que a escatologia é importante?

Conforme mencionamos anteriormente, as Escrituras possuem um extenso material profético referente aos acontecimentos finais na história, então pode-se dizer que estudar escatologia é conhecer mais a respeito da revelação de Deus. Desde Gênesis até Apocalipse, é comum encontrarmos expressões como “últimos dias” ou “dias vindouros”, ou outras que expressam a mesma ideia. Também há livros bíblicos que são completamente escatológicos, como o livro do profeta Daniel.

Além disso, o conhecimento escatológico possui uma aplicabilidade prática para o nosso dia a dia, nos deixando alertas para a volta iminente de Cristo, incentivando-os a adotar uma postura de vigilância e santificação. As advertências do Senhor e os sinais proféticos nos encorajam a estarmos preparados para seu retorno. Por fim, conhecer os acontecimentos que se desencadearão no futuro nos ajuda a compreender melhor o propósito de Deus para a humanidade e para a sua criação.

Nas palavras de John F. Walvoord: “A escatologia bíblica é o ponto culminante da teologia sistemática. Não é apenas o clímax, o desfecho e a consumação do estudo teológico, mas a apresentação da escatologia é também a suprema demonstração de habilidade teológica. Na escatologia são expostas as importantes ferramentas de exegese, da síntese, da hermenêutica e do sistema teológico.”.


Métodos de interpretação

Os resultados do estudo escatológico dependem basicamente do método de interpretação utilizado, cujos principais são o método alegórico e o método literal (ou histórico-gramatical). A questão de qual método deve ser empregado e qual produz os resultados mais corretos é objeto de discussão até hoje, como bem observou Pieters: “Enquanto não houver acordo quanto a essa questão [qual método empregar], o debate será interminável e infrutífero.”. É fundamental identificar as diferenças entre os métodos, suas origens e o desenvolvimento ao longo da história. 

O método alegórico

Neste método a interpretação do texto ocorre considerando-se seu sentido literal apenas como uma ponte voltada para um sentido mais amplo, secundário, profundo, de natureza espiritual. Outra característica marcante é a negação, rejeição ou desprezo do significado histórico do texto, diminuindo o significado das palavras. Cada palavra ou acontecimento é transformado em alegoria de algum tipo, geralmente com a intenção de responder a certas dificuldades teológicas ou fundamentar crenças doutrinárias.

As origens do método alegórico remonta a Aristóbulo, que serviu de inspiração para Filo, judeu platônico, que tentou conciliar a lei mosaica com a filosofia grega, de modo que a primeira se tornasse aceitável à segunda. Para Filo, a filosofia grega era a mesma coisa que a filosofia de Moisés. Ele tentou harmonizar a religião judaica com filosofia clássica. O método foi posteriormente desenvolvido por Orígenes, que foi o primeiro a formular uma teoria formal de interpretação baseada no método de Filo. Posteriormente, com a ascensão do eclesiasticismo, Agostinho levou adiante as bases de Orígenes e amadureceu a abordagem de interpretação espiritualista. Ele foi o primeiro a fazer com que as Escrituras se conformassem à interpretação da igreja.

O método literal

Opondo-se diretamente ao método alegórico está o método literal ou histórico-gramatical. Pode ser definido como um método que dá a cada palavra o mesmo sentido básico e exato que teria no uso costumeiro, normal, cotidiano, empregada de modo escrito, oral ou conceitual. O nome “histórico-gramatical” diz respeito a ressaltar o conceito de que o sentido deve ser apurado mediante considerações históricas e gramaticais. Outras características deste método são: Baseia a sua interpretação em fatos (norteia-se em dados objetivos, gramática, lógica, etimologia, história, geografia, arqueologia, etc.), exerce sobre a interpretação um controle semelhante ao que a experiência exerce sobre o método científico (qualquer coisa que não se conforme aos cânones do método literal-cultural-crítico deve ser rejeitada ou vista com suspeita) e também oferece a única fiscalização fidedigna para a constante ameaça de aplicar uma interpretação de duplo sentido às Escrituras.

Existem boas evidências para afirmar que este método era utilizado pela igreja primitiva (considerado uma tradição apostólica pelos pais da igreja dos segundo e terceiro séculos), mas que foi gradualmente abandonado após a forte influência de teólogos como Orígenes e Agostinho (este último definindo o “padrão” de interpretação na igreja católica).

Todavia, após o período da reforma protestante, houve um expressivo retorno ao método literal, e muitos estudiosos passaram a buscar o sentido literal dos textos sagrados.  Este método possibilitou a solução de certos problemas teológicos, como por exemplo, a interpretação do termo “Israel”, o qual o método alegórico tende a desconsiderar o âmbito étnico da descendência abraâmica e aplicar exclusivamente à igreja. No método de interpretação literal, o termo “Israel” refere-se à nação israelense, que é distinto da igreja, com profecias exclusivas para esse povo.


O milênio

O ponto culminante de toda a Escritura converge para a segunda vinda do Senhor Jesus Cristo ao mundo, que é o momento onde serão cumpridos todos os propósitos de Deus pelos quais Seu Filho veio ao mundo. A redenção terá sido realizada e a soberania terá sido manifestada na terra. O fenômeno da segunda vinda de Cristo está vinculado ao conceito da era milenar, ou o milênio, que é a crença de que Cristo retornará para reinar por mil anos (Apocalipse 20.1-6) juntamente com os salvos num período de paz e prosperidade. O entendimento deste conceito varia de acordo com o método de interpretação.

Conceito pré-milenista

É chamado de pré-milenismo porque interpreta que a segunda vinda de Jesus ocorrerá antes do período milenar. O conceito pré-milenista segue o método de interpretação literal. Por conseguinte, uma de suas principais características é o fato de fazer distinção entre o Israel étnico (nação israelense) e a igreja (os salvos em Cristo), havendo profecias futuras que se aplicam para cada grupo especificamente. O pré-milenismo defende um governo de Cristo literal, um reino aqui na terra onde Jesus reinará corporalmente durante mil anos. É nesse reino que todas as alianças de Israel serão literalmente cumpridas.

No milênio, Jesus será reconhecido por todos os governantes das nações, das quais regerá “com vara de ferro” (Apocalipse 2.27). As nações desobedientes serão castigadas, como está no texto de Isaías 60.12 e em Zacarias 14.17. Dentre outras características do período milenar na concepção pré-milenista, pode-se citar a prisão de Satanás (Apocalipse 20), mudanças nas condições sociais, nas condições da natureza e nas condições políticas entre as nações. Depois do reino milenar de Cristo, o Filho dará o reino ao Pai e se fundira com Seu reino eterno.

Conceito pós-milenista

Este conceito, que segue o método de interpretação alegórico, interpreta a volta de Cristo à terra somente após o milênio. Entretanto, existem outras características que o diferem do conceito pré-milenista. O pós-milenismo não reconhece o período conhecido como a grande tribulação e trabalham com conceitos diferentes a respeito do anticristo. Os defensores do pós-milenismo acreditam que a igreja implantará no mundo uma era de predomínio cristão (apesar de não necessariamente se tratar de um período de exatos mil anos) que ocorrerá de forma gradual e não instantânea. Nesse período haverá uma atuação expressiva do papel da igreja na sociedade, a fim de moldá-la aos padrões divinos, atingindo seu ápice na “era milenar” de paz e justiça sobre a terra. Após a “era milenar”, ocorrerá o retorno de Cristo à terra e a ressurreição tanto de cristãos quanto de incrédulos para o juízo final e o estabelecimento de um novo céu e uma nova terra. A partir desse ponto se inicia um “estado eterno”.

Na concepção pós-milenista, o mundo está se tornando um lugar melhor, como pode ser visto no predomínio da democracia, na preocupação com o bem-estar do ser humano, o fim da escravidão, etc. Logo, pode-se dizer que a principal característica deste conceito é o fato de ser bastante otimista acerca do poder do evangelho para transformar vidas e estabelecer o bem no mundo. É justamente por esse otimismo que após a segunda guerra mundial o pós-milenismo entrou em colapso devido à degradante situação moral da humanidade e toda outra série de fatores, e desde a época do pós-guerra até a atualidade tem havido uma expressiva diminuição de seus defensores.

Conceito amilenista

O amilenismo deriva do trabalho de Agostinho, que foi o primeiro grande expoente deste conceito e cujo ponto de vista se tornou a doutrina dominante da igreja católica, sendo adotado posteriormente por vários reformadores protestantes. Neste conceito, que se fundamenta no método de interpretação alegórico, não haverá um milênio literal na terra após o segundo advento. Todas as profecias a respeito do reino estão sendo cumpridas espiritualmente pela igreja no período entre os dois adventos.

Assim, seu caráter mais geral é a negação do reinado literal de Cristo na terra. No pensamento amilenista, imagina-se que Satanás tenha sido preso na primeira vinda de Cristo. A presente era, entre o primeiro e segundo advento, é o cumprimento do milênio. Há uma discreta discordância entre amilenistas que acreditam no cumprimento do milênio na terra (inspirados por Agostinho) e os que acreditam no cumprimento do milênio pelos santos no céu (inspirados em Warfield).

Pode-se resumir o conceito amilenista na ideia de que não haverá mais milênio do que há agora, e que o estado eterno se segue imediatamente à segunda vinda de Cristo. Essa teoria assemelha-se ao pós-milenismo quando afirma que Cristo virá depois do que eles consideram ser o milênio.


Conceitos e terminologias importantes

Existe uma série de conceitos e terminologias que são fundamentais para o entendimento escatológico, e cujo correto entendimento serve como requisito para o estudo de outros conceitos mais avançados. Assim sendo, vamos apresentar aqui uma relação resumida dos conceitos mais relevantes que servirá de ponto de partida para o estudante de escatologia.

  • Dispensação

Conceito no qual se deriva o dispensacionalismo. As dispensações estão associadas com períodos em que as pessoas foram submetidas a provas específicas e variadas de sua obediência a Deus, do começo ao final da história humana. Trata-se de uma revelação progressiva e conexa da forma como Deus trata com o homem, revelação que, às vezes, é dada a toda a raça e, em outras, a um povo em particular (Israel). Estas diferentes dispensações não são caminhos separados de salvação. Durante cada dispensação, o homem se reconcilia com Deus somente de uma maneira: Pela Graça de Deus por meio do sacrifício expiatório de Cristo, ao crer na revelação que lhe havia sido dada até aquele momento.

O propósito de cada dispensação, portanto, é colocar o homem sob uma regra de conduta específica, mas tal mordomia não é uma condição para a salvação. Em cada dispensação passada, o homem não regenerado fracassou, e tem fracassado na presente dispensação e fracassará no futuro. Mas ele tem encontrado e continuará encontrando a salvação pela graça de Deus por meio da fé. Geralmente são distinguidas 7 dispensações: A da inocência (Gênesis 1.28), da Responsabilidade Moral (Gênesis 3.7), do Governo Humano (Gênesis 8.15), da Promessa (Gênesis 12.1), da Lei (Êxodo 19.1), da Igreja (Atos 2.1) e do Reino (Apocalipse 20.4).

  • A Presente Era

A presente era, que começa com a rejeição do Messias por Israel até a recepção vindoura do Messias por Israel no Seu segundo advento, é vista nas Escrituras como um mistério. Paulo deixa isso claro em Colossenses 1.24-29: “… O mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos; aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória.”. O período desde a rejeição do Messias por Israel até Sua recepção por Israel no Seu segundo advento é apresentado em duas partes da Palavra: Mateus 13 e Apocalipse 2 e 3.

Dentre as diferenças entre a presente era e as eras anteriores, podemos citar que em todas as eras anteriores, Cristo foi esperado, mas na presente era Ele não só veio, mas morreu, ressuscitou e é visto à direita do Pai. O Espírito Santo, que em eras anteriores enchia de poder certos homens para que realizassem determinada tarefa, passou a residir em todos os crentes. E, ademais, a revelação em eras passadas era incompleta, mas, na presente era, já que Cristo veio para revelar o Pai, está completa.

  • O Reino de Deus

O plano divino para o reino ocupa grande parte das Escrituras. No entanto, a despeito de tudo o que as Escrituras dizem sobre o assunto, quem as estuda depara com grande variedade de interpretações e explicações quanto à natureza e ao propósito do plano divino para o reino.

Para alguns, o reino de Deus é sinônimo do estado eterno, ou do céu ao qual alguém chega após a morte, de modo que não existe nenhuma relação com a terra. Para outros, o reino é imaterial ou espiritual, no qual Deus governa sobre o coração dos homens de forma que, ao mesmo tempo em que está relacionado à presente era, o reino não está relacionado à terra. Para outros ainda, o reino é simplesmente terreno, sem realidades espirituais vinculadas, uma estrutura política e social a ser alcançada pelo esforço dos homens. Há também quem interprete o reino como relacionado a um movimento nacionalista por parte de Israel que tenta reconstituir a nação como independente no âmbito político.

Por fim, existe também a interpretação de que o reino seria um sinônimo da igreja organizada visível, de modo que ela se transforma em reino, atribuindo um caráter espiritual e político.

  • O Dia do Senhor

Também chamado de “aquele dia” e “o grande dia”, é o período prolongado de tempo que se inicia com o retorno do Senhor na sua glória e termina com a destruição dos céus e da terra pelo fogo, preparando novo céu e nova terra (Isaías 65.17-19; 66.22; 2 Pedro 3.13; Apocalipse 21.1).

Dessa maneira o dia do Senhor abrangeria o período que vai do retorno de Cristo à terra até o novo céu e a nova terra, depois do milênio. Outro entendimento desse conceito é apresentado por Ironside, que diz: “…Quando finalmente o dia de graça terminar, o dia do Senhor o sucederá […] O dia do Senhor segue [o arrebatamento]. Será o tempo em que os juízos de Deus são derramados sobre a terra. Isso inclui a vinda do Senhor com todos os seus santos para executar julgamento sobre Seus inimigos e tomar posse do reino…e reinar em justiça por mil anos gloriosos.”.

  • O Arrebatamento

A presente era, em relação à verdadeira igreja, termina com a transladação da igreja à presença do Senhor. A doutrina da transladação da igreja é uma das considerações mais importantes da escatologia do Novo Testamento (João 14.1-3; 2 Tessalonicenses 4.13-18; 1 Coríntios 1.8; Filipenses 3.20,21). Baseado no texto de 1 Tessalonicenses 4.16 e 17, sabemos que o arrebatamento é o dia em que Jesus Cristo virá dos céus para buscar a sua Igreja, quando, então os fiéis que já morreram serão ressuscitados e nós, que estivermos vivos, seremos elevados para nos encontrarmos com Jesus nas nuvens.

Não há dúvidas de que o advento da volta de Cristo para consumar o arrebatamento da Igreja é o evento mais esperado pelos cristãos ao longo dos séculos. Segundo as Escrituras, o arrebatamento será um acontecimento repentino e o momento exato só é conhecido por Deus.

  • A Grande Tribulação

A grande tribulação é uma expressão bíblica, tirada de Apocalipse 7.14, que se refere a um período de sete anos (cuja primeira metade será mais branda) amplamente profetizado e descrito tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. No Antigo, é descrita como “dia do Senhor” ou “dia da ira”. E esse dia é tratado como um período de angústia e dor, como nunca houve em nenhum outro período da história humana (Daniel 12.1). Também haverá grandes catástrofes e pragas enviadas ou permitidas por Deus (Marcos 13.19; Lucas 21.25,26; Apocalipse 6.1-8,12-17;16.1). Nas palavras de Jesus, nem antes nem depois será encontrado algo igual (Mateus 24.21; Marcos 13.29).

Existem três principais correntes de interpretação em relação a este conceito:

      1. O pré-tribulacionismo, o qual defende a ideia de que a igreja não passará pelo sofrimento da grande tribulação. Antes, a igreja se livrará da grande tribulação por causa das promessas de Deus (Isaías 57.1; 2 Tessalonicenses 2.7; Apocalipse 3.10). Após o arrebatamento dos salvos, o mundo ficará entregue ao poder do anticristo (1 Tessalonicenses 5.1-6; 2 Tessalonicenses 2.3-12; Apocalipse 13), o que dará início à grande tribulação. Este posicionamento encontra os fundamentos de sua interpretação no dispensacionalismo.

      2. O pós-tribulacionismo, o qual defende a ideia de que os eventos narrados em 1 Tessalonicenses 4.13-18 ocorrerão somente ao término da grande tribulação, portanto, a igreja estaria presente na terra durante o período tribulacional, embora sendo protegia de seus aspectos mais terríveis.

      3. O mesotribulacionismo, o qual defende que a igreja permanecerá na terra durante o período mais brando da tribulação; ou seja, os três anos e meio iniciais. Esse tempo é uma referência aos 42 meses, citado em Apocalipse 11.1,2. A teoria do mesotribulacionismo é essencialmente uma via média entre as posições pós e pré-tribulacionistas.
  • A batalha do Armagedom

O termo Armagedom significa “vale do Megido”. Megido ou Esdrelon é uma planície de Israel, em Samaria, na região da Palestina. Esse vale foi palco de sangrentas guerras no passado. Em sentido profético, Armagedom significa “derrubar”, “matar”, “cortar”, “decepar” e “lugar de mortandade”. Esse lugar também é chamado de “lagar” (Apocalipse 14.20).

Os principais versículos que tratam a respeito da profecia do Armagedom encontram-se em Apocalipse 16.16, Jeremias 25.31, Sofonias 3.8 e Zacarias 14.2-5. A partir desses versículos, vemos que se trata de uma guerra centralizada na terra de Israel, porém com desdobramentos para todo o mundo (Jeremias 25.31).

Existem estudiosos que rejeitam a ideia de uma batalha literal, quando as tropas fiéis do anticristo estariam realmente marchando em direção a Israel. Mas há predominância na crença de que haverá, de fato, uma grande batalha mundial, envolvendo cristãos e anticristãos; uma guerra de grandes proporções como jamais ocorreu na história humana. Neste último caso, o Senhor Jesus interviria num momento crucial, aniquilando o anticristo e seus exércitos, ocasião em que também muitos judeus se converteriam e seriam salvos.

  • O Anticristo

A palavra anticristo aparece somente nas Epístolas de João. É usada em 1 João 2.18,22, 4.3 e 2 João 7. Já o conceito de anticristo, que representa alguém que seria o inverso do ungido (o Messias) que viria para enganar e afligir a raça humana, se encontra em diversas passagens nas Escrituras. O apóstolo Paulo faz referência ao anticristo chamando-o de “homem do pecado, filho da perdição” (2 Tessalonicenses 2.3) e “iníquo” (v.8). Para tanto, ele cita Isaías 11.4, o que demonstra que o conceito de anticristo tinha raízes já no Antigo Testamento.

No capítulo 13 de Apocalipse se delineia com maior exatidão o perfil do anticristo, referenciando-o como um governante soberbo, destruidor do povo de Deus, cheio de autoridade maligna, com o qual consegue seduzir o mundo inteiro. Uma observação que cabe ressaltar é que tanto o apóstolo Paulo quanto João apresentam o conceito de anticristo como alguém que vem ou como uma força já presente (2 Tessalonicenses 2.3, 1 João 4.3).

  • A Besta

As Escrituras falam muito sobre o indivíduo que aparecerá no fim dos tempos como cabeça dos poderes gentílicos. Sua pessoa e seu trabalho são apresentados em Ezequiel 28.1-10; Daniel 7.7,8,20-26; 8.23-25; 9.26,27; 11.36-45, 2 Tessalonicenses 2.3-10; Apocalipse 13.1-10; 17.8-14.

Dentre algumas características desse indivíduo conhecido como “a besta”, podemos citar: Entrará em cena nos últimos dias da história de Israel e não aparecerá até o dia do Senhor ter começado. Sua manifestação está sendo atualmente impedida e seu aparecimento será precedido por um afastamento, que pode ser interpretado como um afastamento da fé ou um afastamento dos santos para a presença do Senhor. A besta será de origem gentílica e surgirá do Império Romano. Será o governador de todas as nações e terá uma influência mundial.

Cabe ressaltar também que o surgimento da besta se dará por meio de um plano de paz, e posteriormente introduzirá uma adoração idólatra na qual se colocará como deus. Receberá autoridade de Satanás e será controlado por ele.

  • O Falso Profeta

Associado diretamente à besta, há outro indivíduo, conhecido como o “falso profeta” (Apocalipse 19.20; 10.10), chamado de “a segunda besta” em Apocalipse 13.11-17, em que é dada sua descrição completa. Essa passagem das Escrituras mostra alguns importantes fatores relacionados que devem ser observados: Ele é evidentemente um judeu. É influente nos negócios religiosos, como é a primeira besta. Tem uma autoridade delegada e promove a adoração da primeira besta, sendo capaz de convencer a terra a adorar a primeira besta como se fosse Deus.

Seu ministério é autenticado pelos sinais e milagres que faz, evidentemente provando que ele é o Elias que estava por vir. Por fim, tem sucesso em enganar o mundo incrédulo. O falso profeta é o indivíduo que ministrará juntamente com a primeira besta como seu profeta ou porta-voz.


Conclusão

Como podemos concluir deste artigo, a escatologia possui um vasto campo para aprofundamento, pesquisa e análise. Possui pontos polêmicos e divergentes que precisam ser tratados com um cuidado especial, principalmente considerando a questão da interpretação. Assim, estamos lidando com uma doutrina que exige um julgamento refinado para discernir o que deve ser interpretado à letra em contraposição ao que deve ser interpretado de forma espiritual e alegórica.

Esperamos que o conteúdo apresentado aqui possa ter despertado nos leitores o interesse pela matéria, provocado o alerta sobre sua importância e principalmente introduzido assuntos que fortalecerão suas vidas espirituais. Esta exposição foi apenas um pontapé inicial e imparcial no conteúdo escatológico. Nos próximos artigos estaremos abordando alguns tópicos mencionados aqui em maior destaque e profundidade, assim como outros que não foram incluídos nesta introdução.


Referências bibliográficas

✔️ PENTECOST. J.Dwight. Manual de Escatologia. Editora Vida.

✔️ SCOFIELD. C.I. Bíblia de Estudo Scofield. Sociedade Trinitariana do Brasil.

✔️IRONSIDE. H.A. The Mysteries Of God. Kessinger Publishing.

✔️ PIETERS. Albertus. The Leader, 5 Sept., 1934, ap. Gerrit H. HOSPERS, The principle of spiritualization in hermeneutics, p.5.

 

5 motivos para congregar

“Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia.”

(Hebreus 10:25)

É normal, durante a nossa caminhada na fé, passarmos por momentos onde desanimamos de frequentar igrejas e de estarmos integrados em uma comunidade adorando e servindo a Deus em cultos semanais. Seja durante os primeiros anos de conversão ou mesmo num período de maturidade posterior, tal desânimo é algo que todo cristão eventualmente pode enfrentar. Às vezes, o motivo desse desânimo pode acontecer pelo fato de não encontrarmos uma igreja na qual nos identificamos, seja por questões doutrinárias, cerimoniais, espirituais ou até mesmo sociais. Por conseguinte, o afastamento da congregação acaba acontecendo. Claro que, não estamos nos referindo aqui a pessoas que desistiram definitivamente de congregar por achar “desnecessário” ou por achar que “não existe igreja boa”, esse é um caso bem mais sério que deve ser avaliado em outro estudo. Os alvos desta reflexão são os cristãos que estão num período de “desânimo e reclusão congregacional”, considerando que seja uma situação temporária durante caminhada cristã.

Cabe ressaltar também que, com o advento da internet e a popularidade das plataformas de redes sociais, tem se tornado cada vez mais frequente a inclusão do cristão em comunidades virtuais, o que por um lado tem seus aspectos positivos (como segurança e comodidade, principalmente em questões logísticas), mas, por outro lado, também pode acabar esvaziando a presença dos membros nos cultos presenciais. Acaba havendo um desencorajamento, mesmo que indiretamente e involuntariamente, do engajamento e participação do cristão na congregação. Apesar de ser possível “congregar virtualmente” (e muitas igrejas hoje em dia transmitem seus cultos através de plataformas de streaming) e acompanhar as atividades da igreja pela internet (e até mesmo socializar com os irmãos), frequentar os cultos e estar presencialmente na comunidade ainda é (e não deixará de ser) uma questão sumamente importante.

Diante do panorama mencionado, que atitude o cristão deve tomar para reagir a uma situação de desânimo e consequente afastamento da igreja? Desistir de congregar definitivamente, conformando-se no isolamento não é uma opção. Substituir a congregação presencial por uma virtual tampouco parece ser o melhor caminho. O cristão deve persistir na busca de uma maneira de voltar a congregar. E o primeiro passo é se conscientizar do valor intrínseco dos bons e velhos costumes. Não é por acaso que os cristãos se reúnem em comunhão desde os primórdios da igreja primitiva, e assim foi durante toda a história da igreja. Há um valor muito importante na conservação dessa tradição. Assim sendo, estaremos apresentando a seguir cinco motivos para frequentar uma igreja, motivos que não podem ser ignorados ou substituídos por alternativas. E, mais importante ainda: e não apenas motivos embasados nas Escrituras. Afinal, sempre que estamos desorientados durante a nossa caminhada na fé devemos imediatamente nos voltar para as Escrituras e ouvir o que a Palavra de Deus tem para nos dizer a respeito.


Motivo n°1: Desenvolver seus dons espirituais

Como cristãos, somos guiados pelo Espírito Santo, que distribui os dons espirituais “particularmente a cada um como quer” (1 Coríntios 12:11) com o propósito de edificar os membros do corpo para o serviço na obra de Deus. Segundo o comentário de 1 Coríntios 12 na Bíblia de Estudo Scofield: “A cada cristão é dado um dom, uma capacidade para um serviço específico. Ninguém carece desse dom, mas, ao distribuir os dons, o Espírito age com total soberania” (página 1064).

Os dons do espírito trabalham no sentido coletivo (ou seja, para edificar a igreja) e não num sentido individual (para edificação do próprio cristão). É errado pensar que é possível desenvolver plenamente os dons espirituais isolando-se da congregação (1 Coríntios 12:14). O cristão é membro de um corpo num sentido bastante estrito, inseparável, e justamente por isso precisa estar em contato com as outras partes do corpo (1 Coríntios 12:21). Assim, os cristãos devem se apoiar mutuamente através dos dons do Espírito (1 Coríntios 12:25), o que fica muito difícil de acontecer se o cristão está afastado da congregação ou apenas assistindo a cultos virtualmente.

O apóstolo Paulo faz uma excelente analogia do Corpo de Cristo com o corpo humano (1 Coríntios 12:15-17). É preciso que todos os membros estejam interligados e convivendo juntos para que o corpo funcione. Essa comunhão só acontece plenamente através um ambiente congregacional. Alguns dons, inclusive, só podem ser exercidos se houver uma congregação organizada, como os dons ministeriais.

A preocupação por descobrir os dons espirituais e exercê-los com eficiência deve sempre estar presente em algum momento da caminhada cristã (1 Coríntios 12:31). Afinal, somos ferramentas a serviço do nosso Senhor, nossa missão como servos de Cristo é edificar a igreja e evangelizar (Mateus 28:18-20). É preciso tomar cuidado para que o afastamento da congregação e um consequente período de reclusão prolongado não esfrie essa prioridade na vida cristã.


Motivo n°2: Participar da Ceia do Senhor

A Ceia do Senhor é um memorial importantíssimo na vida cristã que deve ocorrer periodicamente na igreja (1 Coríntios 11:25). Seu propósito fundamental é recordar o sacrifício de Jesus na cruz, assim como também obedecer às suas ordenanças e renovar as esperanças de sua segunda volta. É um momento de reflexão e também de comunhão com os irmãos em Cristo. Os elementos envolvidos na celebração são simbólicos (o pão representa o corpo de Cristo, o vinho representa o seu sangue derramado na cruz). Apesar de haver certas divergências de interpretação quanto ao entendimento substancial do pão e do vinho, é de comum aceitação que a Ceia do Senhor deve ser realizada preferencialmente em um momento de confraternização entre os irmãos em Cristo e não isoladamente (1 Coríntios 11:20).

Os cristãos se reúnem para celebrar o memorial da Ceia desde os tempos da igreja primitiva, ou seja, é uma prática que desde a sua origem se aplica a um contexto comunitário, como pode ser visto em 1 Coríntios 11 do versículo 20 em diante. Esse trecho de 1 Coríntios inclusive é bem interessante pois o apóstolo Paulo faz uma distinção clara entre comer com o propósito de se alimentar e realizar a Ceia do Senhor. O memorial não tem a finalidade de alimentação física, coisa que pode ser feita em qualquer lugar (em casa, como o apóstolo sugere no versículo 22), mas tem a finalidade espiritual, e que só pode acontecer no contexto da congregação (repare que o apóstolo não sugere que a Ceia possa ser celebrada em algum outro contexto senão durante as reuniões dos irmãos, como nos versículos 33 e 34).


Motivo n°3: Participar de eventos sociais e campanhas de evangelismo

A igreja não atua apenas internamente para edificar os membros do corpo de Cristo, mas também para beneficiar a sociedade com programas de ação social que muitas vezes abrem portas para o evangelismo (Tiago 2:14-17 e Atos 20:35). Tais programas sociais são organizados e contemplados de forma mais abrangente e elaborada se houver uma congregação reunida planejando-os, incentivando-os e sustentando-os. O aspecto assistencialista da igreja na sociedade está presente desde a sua origem, pois no Novo Testamento encontramos vários exemplos de cristãos e igrejas que se envolviam com diversos serviços cristãos na sociedade. O apóstolo Paulo cita em suas epístolas a organização de coletas que eram realizadas nas igrejas para ajudar os irmãos necessitados, exaltando essa atitude e expressando sua importância no caráter cristão (1 Coríntios 16:1 e Romanos 15:26). Indiscutivelmente, fazer o bem a todos é um reflexo da natureza cristã (Gálatas 6:10).

É importante destacar que os eventos sociais acabam servindo como instrumento de testemunho, evangelização e realização do trabalho missionário, levando a palavra de Deus a pessoas necessitadas através de diversos auxílios promovidos pela igreja. É um trabalho de campo importantíssimo que pode atuar em muitas esferas da comunidade (por exemplo, distribuição de cestas básicas e roupas, distribuição de folhetos e bíblias, transmissão de filmes evangelísticos, cultos ao ar livre, etc.). Isolado ou envolvido apenas virtualmente com a igreja, o cristão acaba encontrando certas barreiras para se envolver mais ativamente na comunidade, e consequentemente sua participação em eventos sociais e no trabalho missionário acaba sendo comprometida.


Motivo n°4: Fortalecer a comunidade cristã

O autor da carta aos Hebreus nos alerta a não deixarmos a congregação, mas que permaneçamos nos admoestando mutuamente (Hebreus 10:25). Quando estamos engajados em uma comunidade cristã, temos uma oportunidade muito maior de fortalecer os laços de comunhão com os irmãos em Cristo, e não apenas na confraternização durante os cultos e eventos da igreja, mas visitando lares, ajudando em questões pessoais, aprofundando a fraternidade em momentos de lazer, etc. Considerando que o cristão deve preferencialmente buscar amizades que partilhem da mesma fé (Salmo 26:4), o melhor lugar para encontrar bons amigos é socializando na igreja, participando da congregação. Cristãos convivendo em união compõem uma comunidade fortalecida em Cristo (Mateus 18:20), e a socialização estimula os bons costumes, o amor e as boas obras (Hebreus 10:24).

O incentivo à admoestação de Hebreus 10:25 não pode ser de forma alguma desconsiderado. Somente através do convívio com os irmãos em Cristo é possível ensinar com clareza e precisão, corrigir erros doutrinários, repreender práticas pecaminosas, prestar aconselhamento e promover encorajamento espiritual (Atos 15:32, 2 Timóteo 4:2 e Tito 2:6). Viver um cristianismo “isolado” expõe o cristão a muitos perigos espirituais e doutrinários, e aos maus costumes. Resumindo, a comunidade cristã se fortalece em todos os sentidos quando os membros do Corpo de Cristo interagem entre si buscando alinhamento dentro do padrão de Deus.


Motivo n°5: Ampliar seus conhecimentos bíblicos e doutrinários

Apesar de ser perfeitamente possível (e necessário) estudar teologia e se aprofundar nos conhecimentos bíblicos e doutrinários no conforto de sua casa, existem diversas atividades na igreja que possibilitam ampliar e consolidar a nossa bagagem teológica. A Escola Bíblia Dominical (Comumente chamada de EBD) é um espaço precioso para o aprendizado tanto teórico quanto prático, além de ser possível tirar dúvidas em tempo real com professores capacitados e realizar exercícios de fixação que desafiam a comodidade do cristão. A EBD não pode ser substituída por eventos online ou simplesmente retirada da grade de atividades de uma igreja boa. Sua existência estimula a busca pelo conhecimento ao mesmo tempo em que desenvolve de forma prática a vida cristã.

Também existe a possibilidade de tirar dúvidas diretamente com o pastor da igreja (que em tese deveria ser um cristão com formação teológica e um vasto conhecimento bíblico), aprender com os sermões dominicais, participar de congressos e seminários (que muitas vezes acontecem no próprio salão de culto da igreja), etc. Por mais que atualmente o acesso à teologia tenha se “popularizado” na internet e exista uma infinidade de meios para obter conteúdo teológico e doutrinário, o melhor lugar para formar mentes teológicas dentro da sã doutrina é na igreja. Um o cristão que não se envolve com as atividades da igreja que promovem conhecimento teológico é um cristão limitado, com crescimento espiritual lento e exposto a todo tipo de informação de procedência duvidosa.


Conclusão – Tempo de reflexão

Agora que já apresentamos cinco bons motivos para voltar a frequentar uma igreja regularmente, convidamos ao leitor (independentemente de estar ou não passando por uma fase de afastamento da congregação) a repensar a sua vida espiritual e refletir a respeito de seu papel dentro do Corpo de Cristo. Talvez esteja na hora do seu retorno à comunidade cristã, talvez seja o momento de uma mudança na sua rotina de vida, ou talvez seja necessário continuar procurando uma boa igreja, ou até mesmo incentivar outros irmãos em Cristo a se envolver mais na obra de Deus. De qualquer maneira, levante esses questionamentos a Deus em suas orações pessoais. Não desista de procurar um bom lugar para congregar, não rejeite os bons costumes que consolidaram o cristianismo desde a sua origem, não se acomode com suas limitações e dificuldades.

O verdadeiro cristão sente a necessidade de estar em comunhão com seus irmãos na fé, pois ele faz parte do Corpo de Cristo, que é um corpo unido cujos membros trabalham em conjunto, onde ninguém é dispensável ou inferior e todos trabalham para a cabeça, que é Cristo (1 Coríntios 12:21-22). Um cristão isolado dificilmente vai se desenvolver plenamente segundo o propósito de Deus, pois Ele quer que trabalhemos juntos em Seu reino (1 Coríntios 12:18).

“O batismo com o Espírito dá forma ao corpo unindo os crentes em Cristo, a Cabeça ressuscitada e glorificada, e unindo-os também uns aos outros.” (Comentário da Bíblia Scofield, página 1063)


Referências

Estudo sobre a Santa Ceia do Senhor Bíblia On. Disponível em: <https://www.bibliaon.com/estudo_sobre_santa_ceia_do_senhor_o_que_a_biblia_ensina/>. Acesso em: 12 abr. 2023.

O que são e quais são os dons espirituais? Estilo Adoração. Disponível em: <https://estiloadoracao.com/quais-sao-os-dons-espirituais/>. Acesso em: 11 abr. 2023.

BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Scofield. Almeida Corrigida e Fiel. São Paulo: Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 2009. 

 

Série Desmascarando Seitas – Parte IV

Créditos da imagem: Diane Picchiottino

“E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo.”

(Hebreus 9:27)

Parte IV – Espiritismo (Final)

Na quarta e última parte da nossa série, elaboraremos uma exposição sobre o Espiritismo, que na verdade não se trata de uma seita, mas de uma religião distinta do cristianismo, porém que se apresenta com roupagem cristã (os próprios espíritas se denominam cristãos) e facilmente pode ser confundida como uma denominação cristã. Neste estudo estaremos tratando especificamente do espiritismo kardecista, que é a vertente mais popular de espiritismo no Brasil.

O espiritismo pode ser definido, de forma geral, como um conjunto de doutrinas de cunho filosófico e científico, cuja principal crença gira em torno da constante evolução espiritual do ser humano, através das reencarnações. O espiritismo também incentiva e promove a comunicação de pessoas do mundo material com espíritos.

Estima-se que cada dois brasileiros, um tenha envolvimento com uma das várias formas de espiritismo. As ideias espíritas se incorporaram em todo tipo de mídia (programas de TV, literatura, etc.), e até mesmo no linguajar popular. Ou seja, trata-se de uma religião com um grande alcance, de fácil infiltração e poder de influência.


A história do espiritismo

Alguns conceitos primitivos do espiritismo já existiam desde os tempos bíblicos. A civilização babilônica, a egípcia e os cananeus apresentavam em seus cultos diversas práticas que relembram elementos do espiritismo atual (Algumas referências bíblicas podem ser vistas em Isaías 47:12-15, Gênesis 41:8, Êxodo 7:11 e Deuteronômio 18:9-12).

A origem do espiritismo kardecista remonta ao movimento espiritualista que teve seu despertar no ano 1847, quando as irmãs Margareth, Kate e Leah Fox se mudaram para Hydesville, em Nova Iorque. No ano seguinte, uma série de acontecimentos estranhos começou a surgir na casa onde moravam, fazendo parecer que se tratava de uma casa mal-assombrada com eventos sobrenaturais. Tais acontecimentos incluíam ruídos de batidas de origem desconhecida e mobília se movendo. A partir daí, pessoas da vizinhança começaram a se interessar pelo fenômeno, que em pouco tempo começou a ganhar força e a supostamente se manifestar em outras famílias. O movimento espiritualista começou a se expandir territorialmente, espalhando-se pelo mundo. É importante ressaltar que posteriormente as irmãs Fox admitiram publicamente que tais fenômenos na verdade eram truques que elas mesmas elaboravam, fazendo com que sua credibilidade como médiuns fosse arruinada, porém não dissolvendo o movimento espiritualista.

Foi nessa época (por volta de 1857-1860) que um pedagogo francês chamado Léon Hypolite Denizard Rivail despertou um profundo interesse pelo movimento espiritualista (que a essas alturas havia se popularizado na Europa), iniciando uma série de “estudos sérios e investigações minuciosas” sobre os fenômenos. Ele foi o responsável por codificar as doutrinas do espiritismo moderno, dando-lhes uma aparência de racionalidade e uma roupagem científica. Alegando ter recebido dos espíritos uma revelação sobre sua missão, Léon adota o pseudônimo de Allan Kardec, e dois anos depois funda a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Dentre as principais obras de Kardec, cabe mencionar o Livro dos Espíritos e O Evangelho Segundo o Espiritismo. Estas obras são fundamentais para o espiritismo kardecista atual, pois contém o registro das revelações de Kardec e toda a base doutrinária da religião.


Principais doutrinas controversas

  • Kardec, o “sucessor” de Cristo: De acordo com a definição do próprio Alan Kardec em seu livro O que é o Espiritismo, após Deus se revelar ao mundo através da lei de Moisés (como nos dez mandamentos) e de Jesus (que reformulou completamente a lei mosaica, simplificando-a em apenas dois mandamentos: o amor a Deus e o amor ao próximo), Deus providenciou mais uma revelação para “dar continuidade” à obra “incompleta” de Jesus.  Esta terceira (e última) revelação se deu através de Alan Kardec, em um período em que a humanidade havia amadurecido moralmente e progredido cientificamente, e estava preparada para recebê-la. 
  • Kardec, a “encarnação” da promessa de Cristo: Alan Kardec também afirma que é o próprio consolador, aquele que Cristo prometeu que enviaria para a humanidade (João 14:16,17),  a fim de trazer toda a verdade através das doutrinas espíritas.  
  • Doutrina de espíritos: O espiritismo acredita que suas doutrinas foram dadas as pessoas através dos espíritos e não através de homens divinamente inspirados. Os espíritos, de acordo com a definição de Kardec, são as “vozes do céu”, as almas das pessoas que já morreram, e que estão em todo lugar e se comunicam com o mundo físico através dos médiuns.
  • Revelações posteriores: Os mórmons continuam aceitando novas revelações vindas de seus profetas e apóstolos, o que torna as suas doutrinas amplamente mutáveis. Cabe aqui observar que os mórmons originalmente tinham uma doutrina de viés racista, pois proibiam que negros ingressassem no sacerdócio, alegando que a cor de pele era uma referência à marca de Caim. Com o tempo, essa doutrina foi completamente modificada para se ajustar às mudanças sociais, sob a justificativa de que era uma “nova revelação de Deus”.
  • Negação de Satanás, demônios e inferno: O espiritismo não acredita na existência de anjos caídos (Satanás e demônios), afirmando que “fenômenos demoníacos” são na verdade causados pelas almas das pessoas que já morreram. Satanás inclusive é tratado como uma mera alegoria, uma figura de linguagem que representa o mal. O espiritismo também nega a existência do inferno literal e eterno, interpretando-o como um momento de sofrimento que um espírito desencarnado vivencia durante o período prévio à reencarnação.
  • Distinção de almas: Segundo Kardec, existem “espíritos bons” e “espíritos maus”, mas todos são as almas desencarnadas de seres humanos, não se tratam de espíritos angelicais.  Tais espíritos permanecem “vagando” no mundo espiritual, com plena consciência e desejo de se comunicar com o plano material.
  • Comunicação com espíritos: Uma das doutrinas mais importantes do espiritismo é a possibilidade de, através dos médiuns, comunicação com as pessoas que já morreram, pois, de acordo com a definição de Kardec, os espíritos bons são “agentes de Deus para trazer novas revelações à humanidade”.
  • Jesus, um “espírito aperfeiçoado”: Para os espíritas, Jesus é um espírito que foi aperfeiçoado e reside no mundo celeste (ou divino). O espiritismo acredita que existam diversos mundos onde as almas são direcionadas de acordo com o “grau de purificação espiritual”.
  • Reencarnação: A principal doutrina do espiritismo é a reencarnação. Apesar dos esforços dos espíritas em tentar conciliar reencarnação e ressurreição bíblica, são dois conceitos completamente diferentes. A reencarnação é o retorno da alma ao mundo físico com o intuito de purificação pelos pecados, reencarnando em um corpo diferente da vida anterior, e sem preservar nenhum tipo de recordações. Os espíritas dizem que Jesus ensinou a reencarnação na Bíblia, e para isso utilizam o texto de João 3:1-3, onde Jesus diz que é necessário “nascer de novo”. Eles também vinculam essa passagem bíblica com Mateus 17:11-13, onde Jesus chama João Batista de Elias, interpretando como se Jesus estivesse atestando que Elias reencarnou em João Batista.
  • Expiação de pecados por meio do sofrimento: Para o espiritismo, a reencarnação é necessária para purificação dos pecados, é mediante as sucessivas reencarnações que o pagamento dos pecados é realizado. Citando as palavras de Kardec: “Nas suas diversas existências corporais é que os espíritos se livram pouco a pouco de suas imperfeições. As provas da vida fazem com que ele avance quando são bem suportadas. Como pagamento, os sofrimentos apagam as faltas e purificam, são remédios que limpam a chaga, curam o doente. Quanto maior o mal, mais o remédio deve ser eficiente.“. Os espíritas acreditam que realizar boas obras de caridade é o único caminho para a plena purificação da alma. Ou seja, é através das boas obras que as pessoas poderão reencarnar em vidas melhores. Eles negam que a morte de Jesus tenha sido de caráter expiatório.
  • Arrependimento após a morte: O espiritismo afirma que os espíritos desencarnados podem ser arrepender dos seus pecados, uma das razões pela qual se incentiva a oração pelos espíritos. “Os espíritos que sofrem, clamam por preces, e elas lhes são proveitosas, porque ao se verem lembrados, se sentem mais reconfortados e menos infelizes”, citação de Alan Kardec. 

Refutando as doutrinas controversas

  • Kardec, o “sucessor” de Cristo: Esta é uma característica muito comum em seitas, conforme já vimos nos artigos anteriores desta série. O próprio Jesus nos deixou uma advertência a respeito: “E então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo; ou: Ei-lo ali; não acrediteis. Porque se levantarão falsos cristos, e falsos profetas, e farão sinais e prodígios, para enganarem, se for possível, até os escolhidos.” (Marcos 13:21,22). As Escrituras nos alertam claramente a respeito de indivíduos que se levantam afirmando estar na mesma posição de Jesus ou dando continuidade à sua obra. Outro aspecto que invalida o status “messiânico” de Kardec é que alguns dos seus ensinamentos são escancaradamente contrários aos ensinamentos de Jesus. Por exemplo, a doutrina da reencarnação é por definição contrária à doutrina da ressurreição, conforme já vimos. Kardec também negava a divindade de Jesus e não reconheceu seu sacrifício vicário na cruz. Por conseguinte, o Jesus que Kardec acreditava não era o mesmo Jesus bíblico, capaz de perdoar pecados e redimir a humanidade através do seu sangue.
    Ademais, cabe ser citado aqui é o de que não existem revelações posteriores ao que Deus revelou nas Escrituras, em Jesus se deu a revelação final de Deus para a humanidade, e o cânon sagrado está completo. Tratamos deste assunto com mais profundidade no primeiro artigo desta série. Confira aqui.
    Por fim, reforçamos o entendimento de que a obra de Jesus não foi incompleta, não aconteceu “em uma época inadequada” e não havia necessidade de um novo messias, pois Jesus é “O resplendor da sua glória (de Deus), e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas;”. (Hebreus 1:3)
  • Kardec, a “encarnação” da promessa de Cristo: Ao colocar-se no lugar do Espírito Santo (o “consolador” ao qual Jesus se referia, ficando isto evidente em João 14:26), o espiritismo nega a doutrina da trindade. O cumprimento da promessa de João 14:16 se deu na ocasião do Pentecostes (Atos 2:1-4) e não no ministério de Allan Kardec.
  • Doutrina de espíritos: Este princípio é completamente diferente daquilo que a Bíblia ensina a respeito da divina inspiração das Escrituras. Nenhum ensinamento cristão foi revelado através de espíritos, mas somente pelo Espírito Santo, que inspirou e supervisionou os autores bíblicos (2 Timóteo 3:16). 1 Coríntios 2:11-13 confirma o papel e a autoridade do Espírito Santo na revelação de Deus: “Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus. Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus. As quais também falamos, não com palavras que a sabedoria humana ensina, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais.”
    Outro ponto a ser ressaltado é que, em momento algum das Escrituras ocorre o ensino de doutrinas ou revelações através de espíritos como é defendido pelo Espiritismo. Sempre é o próprio Deus quem fala, ou diretamente (Êxodo 33:21), ou através de profetas (1 Samuel 3:4), ou através de seus anjos (Êxodo 3:2). Inclusive, em 1 Timóteo 4:1 há um alerta a respeito das doutrinas de “espíritos enganadores”: “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios”. Em suma, não há nenhuma passagem bíblica que defenda a legitimidade de médiuns para fins de revelação divina. Aliás, na Bíblia não há nenhum ensinamento de que devemos nos comunicar com pessoas que já morreram (ou que isso seja possível). A única ocorrência relacionada à comunicação com os mortos foi na ocasião onde Saul consulta uma vidente para entrar em contato com o espírito o profeta Samuel (1 Samuel 28). Mas, além de não confirmar se realmente era o espírito de Samuel quem respondeu, esta atitude teve sérias consequências, pois é uma prática abominável a Deus.

  • Negação de Satanás, demônios e inferno: Esta é mais uma interpretação contrária ao ensinamento das Escrituras, que evidenciam claramente a existência de seres angelicais (sejam anjos ou demônios) no sentido literal (não de forma alegórica ou simbólica) e de natureza distinta à natureza humana. Efésios 6:12 nos revela que a natureza dos demônios é diferente da natureza dos humanos: “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue…” significa que os principados, as potestades e as hostes espirituais, não são de natureza humana (ou seja, não são humanos que morreram e se tornaram como demônios).
    Outra questão que diferencia demônios de humanos é que os demônios não podem ser salvos através do sangue de Cristo. Em Apocalipse 12:9 vemos que Satanás e seus anjos serão lançados no fogo eterno: “E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele”. Demônios também possuem a capacidade de possuir pessoas e animais, conforme relatos bíblicos (Marcos 5:2, Mateus 8:31).
    Neste ponto é importante esclarecermos a passagem de Mateus 22:30 onde Jesus diz que os humanos serão como “anjos de Deus no céu após a ressurreição”. Este versículo pode ser facilmente mal interpretado se ignorado o seu contexto. Neste versículo Jesus não está afirmando que os seres humanos se tornarão seres angelicais na ocasião da ressurreição, o foco nesta passagem está na questão do matrimônio (veja o contexto: Jesus estava sendo questionado sobre uma questão matrimonial relacionada à ressurreição). O que Jesus quis dizer nesta passagem é que não haverá casamentos após a ressurreição, assim como anjos também não se casam.
    Ademais, existem muitos versículos bíblicos que atestam a individualidade e personalidade de Satanás, como por exemplo, no episódio da tentação de Cristo no deserto, na queda do homem e no relato de Jó. As profecias apocalípticas que envolvem Satanás não fariam sentido se este não se tratasse literalmente de um indivíduo com personalidade (Apocalipse 20:10, por exemplo).
    Sobre a existência do inferno, a Bíblia nos ensina que ele é tão real quanto o céu. Do ponto de vista bíblico, o inferno é literalmente um lugar onde as pessoas que rejeitaram a Deus permanecerão em tormento por toda a eternidade. É muitas vezes descrito como o “fogo eterno” (Mateus 25:41) e um lugar onde “o fogo nunca se apaga” (Marcos 9:45). Em Apocalipse vemos ainda que o inferno será lançado no lago de fogo, que é a segunda morte (Apocalipse 20:14), levando junto consigo todos aqueles cujos nomes não consta no livro da vida (Apocalipse 20:15). Resumindo, temos mais argumentos bíblicos para acreditar na existência literal do inferno do que para desacreditar em sua existência.
  • Distinção de almas: Outro ensinamento que não compactua com o que a Bíblia diz. O texto de Romanos 3:23 refuta a ideia de que possam existir espíritos essencialmente bons: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. O texto não diz que somente alguns pecaram, ou que algumas pessoas são boas em sua essência. Pelo contrário, todos os humanos se encontram num estado de decadência espiritual sem Deus. Romanos 5:12 corrobora ainda mais com esse argumento: “Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram.”. Assim, vemos que não existem “almas boas”, como também não é possível que uma alma venha a se salvar por si mesma. Todos precisam da salvação por meio de Cristo Jesus (que, aliás, seu propósito aqui na terra consistiu justamente em salvar toda a humanidade, e não somente as “almas más”).
    O espiritismo tampouco encontra respaldo no ensinamento bíblico no que diz respeito aos espíritos desencarnados “vagarem” por um espaço espiritual, podendo inclusive se comunicar e interagir no mundo físico. A parábola do rico e Lázaro (Lucas 16) ilustra bem essa questão.
  • Comunicação com espíritos: A comunicação com espíritos não era uma prática comum dos judeus, nem dos apóstolos e nem dos cristãos da igreja primitiva. Na verdade, na Bíblia encontramos uma série de argumentos que desencorajam e condenam a comunicação com os mortos. Em Hebreus 9:7 vemos que “aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois disso o juízo”, o que nos transmite a ideia de que as almas dos que morrem não ficam “vagando no mundo” após a morte como pensam os espíritas, mas aguardam o juízo final em algum lugar isolado do mundo dos vivos.
    Um argumento ainda mais forte está na parábola do rico e Lázaro (Lucas 16), onde há uma clara ilustração do que acontece após a morte. Quando o rico percebeu que seus parentes vivos teriam o mesmo fim que ele, implorou para que Abraão enviasse algum morto ao mundo dos vivos a fim de testemunhar da verdade, porém isto lhe foi negado, sugerindo que ouvissem a Moisés e aos profetas (ou seja, que ouçam a Palavra de Deus).
    Por fim, cabe citar ainda outra passagem que desencoraja a comunicação com os espíritos, está em Isaías 8:19: “Quando, pois, vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram: Porventura não consultará o povo a seu Deus? A favor dos vivos consultar-se-á aos mortos?”
  • Jesus, um “espírito aperfeiçoado”: A visão espírita sobre Jesus é totalmente deturpada da visão cristã (em sua ortodoxia). Já apresentamos um artigo a respeito da verdadeira natureza de Jesus e suas características. Confira aqui.
    Negar a divindade de Jesus e a plenitude do seu sacrifício redentor pela humanidade é argumento suficiente para esvaziar todo o crédito do Espiritismo como uma vertente genuinamente cristã.
  • Reencarnação: Esta é uma doutrina cujo entendimento tem causado muita confusão quando os espíritas tentam buscar referências bíblicas para defendê-la. As Escrituras não contêm nenhuma referência à reencarnação. A bíblia trabalha com o conceito de ressurreição, que é essencialmente distinto da reencarnação. Basicamente, a reencarnação tem como finalidade a purificação da alma através de vários ciclos de existência no mundo material. A ideia que permeia a reencarnação é de auto-suficiência salvífica através de pagamento de pecados, ou seja, o homem pode se salvar por si só, apenas precisa evoluir e pagar pelos seus pecados, e isso se dá pela penitência sofrida durante as várias reencarnações. Na ressurreição, a salvação se dá por meio da misericórdia de Deus, que outorga vida eterna através da aceitação de Jesus como Senhor e Salvador e arrependimento de pecados. Ou seja, a ressurreição não depende do próprio homem, mas do poder de Deus. É Deus quem perdoa pecados e purifica a alma, e não o próprio homem através de penitência e boas obras.
    Em suma, a reencarnação tenta destituir Deus do seu papel de salvador para substituí-lo pelo “homem bom” que consegue evoluir e se tornar perfeito por si só. Além do já citado Hebreus 9:7, temos todo o capítulo 15 de 1 Coríntios que trata a respeito da ressurreição, além de Mateus 27:52, Mateus 28:5-6, João 5:29, João 6:40, corroborarem a respeito do assunto. Até mesmo no antigo testamento temos material que favorece a ressurreição, como em Daniel 12:2, Isaías 26:19 e 2 Reis 13:21. Em Jesus encontramos o maior e melhor exemplo de ressurreição. Ele não reencarnou. Jesus voltou à vida no mesmo corpo, porém glorificado (João 20:27).
    Para completar este ponto, esclarecemos a questão de Elias que os espíritas alegam ter reencarnado em João Batista (Mateus 17:11-13). A resposta é simples: De acordo com o registro bíblico, Elias não morreu, ele “subiu aos céus num redemoinho” (2 Reis 2:11). Ademais, quando é feita a comparação de João Batista como um novo Elias, está se referindo ao aspecto ministerial e simbólico, já que os dois compartilhavam de diversos aspectos similares. Em João 1:21, o próprio João Batista negou ser ele Elias.
  • Expiação de pecados por meio do sofrimento: Conforme já mencionamos, a ideia da reencarnação atribui ao homem a possibilidade de salvação mediante pagamento de pecados, utilizando como “moeda de troca” o sofrimento ao longo de várias vidas. Nesta doutrina o espiritismo também contraria o ensinamento bíblico, que apresenta a Jesus como o único e suficiente caminho para sermos redimidos dos nossos pecados. João 14:6 nos deixa claro que Jesus é o único caminho para sermos redimidos e chegarmos até ao Pai. Em Marcos 2:7, vemos claramente que os judeus entendiam que só Deus tem a autoridade para perdoar pecados, e em Marcos 2:10 vemos Jesus apresentando a mesma autoridade divina. Existem muitas outras passagens que corroboram com este ensinamento, mas o texto chave que esclarece de vez a questão está em Efésios 2:8-9: “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie.”. Ou seja, nós não somos capazes de nos salvar, não importa o tamanho do sofrimento pelo qual passamos, não podemos pagar pelos nossos pecados. É Deus quem nos salva, através do sacrifício de Jesus na cruz.
    Por fim, devemos fazer boas obras como consequência da nossa conversão, pois o Espírito Santo é quem passa a nos guiar quando entregamos nossas vidas a Cristo. As obras de caridade não devem ser feitas com a intenção de receber algum benefício futuro, ou buscando salvação própria.
  • Arrependimento após a morte: Este ponto também já foi tratado anteriormente, mas reforçamos a resposta: Não existe a possibilidade de arrependimento após a morte, conforme está em Hebreus 9:27. O momento de escolhermos seguir a Jesus é enquanto estamos vivos (2 Coríntios 6:2, Marcos 16:15). Isso inclusive torna em caráter emergencial a pregação do evangelho, pois devemos levar a palavra de Deus às pessoas enquanto vivem. Outra questão que deve ser mencionada aqui é que a Bíblia não ensina a orarmos pelos que já morreram. Em todos os exemplos de orações que encontramos nas Escrituras, nenhuma é direcionada para a salvação de pessoas que partiram para o plano espiritual.

Conclusão

Podemos concluir que o espiritismo, apesar de tentar se familiarizar com o cristianismo, apresenta pouquíssima (senão nenhuma) base bíblica para fundamentar suas principais doutrinas. Ademais, algumas de suas doutrinas, como a doutrina da reencarnação, são totalmente contrárias aos ensinamentos bíblicos, diminuindo o papel de Jesus no processo de salvação da humanidade, oferecendo uma falsa ideia de salvação através da caridade e do sofrimento e negando a existência da ação do mal através de Satanás e seus demônios.
Trata-se de uma religião que busca ignorar qualquer compromisso pessoal com Deus, apontando o homem com o único responsável por redimir sua própria alma e louvando uma suposta essência boa na natureza humana, capaz de conduzir a humanidade à perfeição.

Com este artigo encerramos a nossa série Desmascarando Seitas. Agradecemos a todos os leitores que acompanharam estes estudos e esperamos ter contribuído com um bom material informativo que servirá fundamentalmente para alertar a comunidade cristã a respeito do perigo das grandes seitas da atualidade.

“Porque, se alguém for pregar-vos outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, com razão o sofreríeis.” (2 Coríntios 11:4)


Referências

Espiritismo. Revista Defenda sua fé: Religiões e Religiosidade, Editora Cristã Evangélica, São José dos Campos – SP, 5ª reimpressão, p. 44-44, 2008.

KARDEC, Allan. O Que É o Espiritismo. IDE Editora, 2019.

NICODEMUS, Augustus. Seitas e Heresias – Espiritismo. Youtube, 27 jan. 2019. Disponível em: <https://youtu.be/-9o6ippH9is&gt;. Acesso em 10 jan. 2023.

O inferno é real? O inferno é eterno? GotQustions.org. Disponível em: <https://www.gotquestions.org/Portugues/inferno-real-eterno.html&gt;. Acesso em: 23 jan. 2023.

 

 

Série Desmascarando Seitas – Parte III

Créditos da imagem: Luigi Boccardo

“Porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos.”

(Mateus 24:5)

Parte III – Mormonismo

Na terceira parte desta série estaremos tratando da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, popularmente conhecida como “igreja dos mórmons”. Uma seita muito perigosa que se apresenta como genuinamente cristã, que importa às doutrinas bíblicas conceitos completamente estranhos ao cristianismo, e que está em vertiginosa ascensão, possuindo mais de 500 mil adeptos no Brasil.

Os mórmons possuem uma metodologia de evangelismo similar às Testemunhas de Jeová, evangelizando em duplas, visitando casas e abordando pessoas nas ruas. Eles apresentam uma aproximação amigável e acolhedora, o que lhes permite ganhar lugar nos lares das pessoas. Existem mais de 14 milhões de adeptos ao mormonismo no mundo todo atualmente, o que faz dessa seita um alvo importante para ser estudado e, sobretudo, desmascarado.


A história do mormonismo

O mormonismo foi fundado por Joseph Smith, que nasceu no condado de Windsor, EUA, em 1805. Além de fundador da seita, ele também foi o seu primeiro presidente e o maior profeta. Mudou-se para Palmyra, Nova York aos dez anos e foi lá que começou todo o seu ministério. Teve sua primeira “visão profética” aos 14 anos, onde Deus e Jesus Cristo lhe apareceram para instruí-lo a não congregar em nenhuma igreja existente, como se todas estivessem sendo apóstatas.

Por volta de 1827, Smith recebeu outra “visão profética”. Desta vez, viu uma mensagem supostamente divina escrita com hieróglifos em placas de ouro.  Ele alegou que um anjo chamado Moroni lhe apareceu e contou que havia vivido naquela região há uns 1400 anos. Ainda segundo o relato de tal anjo, o pai de Moroni era um profeta que tinha gravado a história do seu povo naquelas placas de ouro, e que pouco antes da extinção desse povo as placas foram escondidas ao pé de uma montanha em Palmyra. Moroni então indicou a Smith o local exato das placas e lhe entregou umas pedras especiais chamadas “Urim” e “Turim”, que iriam auxiliá-lo a decifrar e traduzir os dizeres das placas. 

Alguns anos após receber essa visão, Smith traduziu e publicou o texto das placas, publicando uma obra denominada O Livro de Mórmon. Neste livro, é narrada a história de um antigo povo que habitava no continente norte-americano, um povo que era de descendência dos antigos hebreus. Este livro viria a se tornar o principal livro sagrado do mormonismo, que foi oficialmente fundado em 1830 sob o nome de Igreja de Jesus Cristo, vindo posteriormente a mudar o seu nome para Igreja dos Santos dos Últimos Dias. Somente a partir de 26 de abril de 1836 que o nome da seita passou a se chamar Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.


Principais doutrinas controversas

  • O livro de Mórmon: Este livro é considerado o principal texto sagrado dos mórmons, mais importante até mesmo do que a Bíblia. Eles consideram a Bíblia como um livro auxiliar, um complemento. Acreditam que a Bíblia possui erros e está incompleta.
  • Batismo pelos mortos: Uma das doutrinas mais perturbadoras do mormonismo é a de que as pessoas que morreram sem aceitar a Jesus podem adquirir a salvação eterna, e isto se dá através do recurso do “batismo vicário”. Eles acreditam que o batismo possui propriedades salvíficas não só para aquele que se batiza, mas para outras pessoas que morreram. É como se um vivo estivesse se batizando no lugar de alguém que já morreu.
  • Selamento eterno no casamento: Os mórmons acreditam que o ato do casamento outorga divindade ao casal. A promessa é que o casamento seja eterno e as partes se tornem deuses. “O casamento é uma das ordenanças do templo. O casamento no templo sela (une ou liga) um homem e uma mulher como marido e mulher, para a vida aqui na terra e para a eternidade. Podemos ser exaltados com Deus hoje e receber uma plenitude de alegria.” (Princípios do Evangelho, citado em Série Apologética volume V, p.188).
  • Revelações posteriores: Os mórmons continuam aceitando novas revelações vindas de seus profetas e apóstolos, o que torna as suas doutrinas amplamente mutáveis. Cabe aqui observar que os mórmons originalmente tinham uma doutrina de viés racista, pois proibiam que negros ingressassem no sacerdócio, alegando que a cor de pele era uma referência à marca de Caim. Com o tempo, essa doutrina foi completamente modificada para se ajustar às mudanças sociais, sob a justificativa de que era uma “nova revelação de Deus”.
  • Preexistência da alma: Os mórmons acreditam que a alma humana sempre existiu, desde a eternidade éramos “filhos espirituais vivendo com Deus”. Um dos ensinamentos de Joseph Smith é de que o espírito do homem não é um ser criado, sempre existiu e existirá pela eternidade. Segundo ele, “o que é criado não pode ser eterno”.
  • Salvação através do templo: Os mórmons atribuem uma importância significativa ao templo, pois eles acreditam que o templo não é apenas um local de reunião da comunidade, mas que possui um poder salvífico através das cerimônias que ali acontecem.
  • Pluralidade de deuses: Joseph Smith deixa bem claro que acredita na existência de vários deuses, pois ele mesmo afirmou estar pregando sobre a pluralidade de deuses. Ele inclusive defende uma ideia triteísta da trindade, afirmando que Deus Pai é um deus distinto de Jesus Cristo e do Espírito Santo e que cada um possui uma essência individual. “(…) são três personagens distintos e três deuses.” (Smith)
  • Deus está em constante evolução: Os mórmons não acreditam que Deus esteja em um estado de infinita sabedoria e perfeição, mas que ele é “progressivo” e está evoluindo em um “progresso eterno”. O mormonismo inclusive tem a ousadia de comparar a evolução do homem (no sentido de aprendizado, amadurecimento) com a evolução progressiva de Deus, afirmando que o homem algum dia poderá alcançar o mesmo estado de perfeição divina. “Como o homem é, Deus foi; como Deus é, o homem poderá a vir a ser”. (Regras de Fé, citado em Série Apologética volume V, p.132)
  • Deus Pai tem corpo material: O mormonismo concebe Deus Pai como alguém que tem um corpo físico de carne e ossos semelhante aos seres humanos. “O Pai tem um corpo de carne e ossos tão tangível como o do homem.” (Doutrinas e Convênios, citado em Série Apologética volume V, p.136).
  • Aspectos cristológicos distorcidos: Na visão dos mórmons, Jesus foi concebido numa preexistência por uma mãe celestial e literalmente é o espírito irmão de Lúcifer. O mormonismo, por conseguinte, nega o nascimento virginal de Jesus.
  • Salvação somente através da fé em Joseph Smith: Os mórmons afirmam categoricamente que somente aceitando as profecias de Joseph Smith é possível entrar no reino de Deus. “Se Joseph Smith foi realmente um profeta, nenhum homem pode rejeitar este testemunho sem incorrer nas mais terríveis consequências, pois não poderá entrar no reino de Deus”. (Doutrinas de Salvação, citado em Série Apologética volume V. p.124). Os mórmons também acreditam que somente o sacrifício de Cristo na cruz não é suficiente para redimir a humanidade, é necessário também seguir as ordenanças das doutrinas dos mórmons.
  • Expiação de pecados pelo próprio homem: O mormonismo ensina que alguns pecados somente podem ser expiados pelo próprio sangue do transgressor, pois estão “além do poder da expiação de Cristo”. Joseph Smith afirma que: “Se forem cometidas tais ofensas, aí o sangue de Cristo não o limpará de seus pecados, mesmo que se arrependa. Por isso, sua única esperança é ter o próprio sangue em expiação.” (Doutrinas de Salvação, citado em Série Apologética volume V. p.156)


Refutando as doutrinas controversas

  • O livro de Mórmon: Em primeiro lugar, é importante deixar claro que este livro carece de evidências. Muitas das narrativas ali mencionadas parecem fantasiosas, pois vão de encontro com as descobertas arqueológicas, antropológicas, históricas e teológicas. Por exemplo, em I Nefi 4:9 é mencionada a existência de uma espada de aço. Mas, de acordo com as evidências arqueológicas, o aço ainda não existia na época dos acontecimentos narrados, somente o bronze. Da mesma forma, em I Nefi 16:10,28 e 18:12, é mencionada a existência de uma bússola, mas é historicamente seguro afirmar que a bússola ainda não havia sido inventada no ano de 589 a.C. Dentre os erros antropológicos, cabe mencionar que o livro de Mórmon revela uma esdrúxula ligação de descendência entre os índios americanos e os semitas hebreus, sendo que não existe nenhum estudo antropológico que de alguma forma defenda essa relação. Há também a afirmação de que existiram grandes civilizações na América, e era uma terra abundante com animais como cavalos, bois e cabritos. Nenhum desses relatos tampouco possui qualquer evidência que apoie a sua veracidade. Aliás, alguns dos animais mencionados só foram aparecer no continente americano após a colonização dos ingleses. Em suma, no que diz respeito à confiabilidade, o livro de Mórmon é muito diferente da narrativa bíblica, que se passa em um contexto historicamente comprovado e com muitas evidências ao seu favor.
  • Batismo pelos mortos: Esta doutrina contraria a visão bíblica sobre a salvação. O ensinamento bíblico é de que a salvação é um dom de Deus para os que estão vivos e que genuinamente se arrependeram e aceitaram a Jesus (João 3:16). Aliás, a respeito da possibilidade de salvação dos que morreram sem Cristo, em Hebreus 9:27 esse assunto fica bem claro: “E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo.”. O batismo é individual e representa a conversão do indivíduo, sua integração no Corpo de Cristo (Atos 19:4 e Gálatas 3:27). O versículo base que é usado para sustentar essa doutrina se encontra em 1 Coríntios 15:29.
    Além de ser perigoso sustentar uma doutrina embasada em apenas um único versículo, os mórmons ainda fazem uma interpretação equivocada dessa passagem, assumindo que Paulo esteja incentivando essa prática. Robert H. Gundry, em seu livro Panorama do Novo Testamento, observa que “É mais provável que Paulo esteja se referindo a um batismo vicário no sentido completo, embora tenha lançado mão da ideia apenas como um argumento, sem dar apoio à prática (“…e que farão eles…?” e “…por que se batizam eles por causa deles?”, em oposição a “nós”, que figura no versículo seguinte)”. Gundry ainda complementa o seu comentário dizendo que “Paulo estava frisando a incoerência daqueles que se submetiam ao batismo em favor dos próprios mortos cuja futura ressurreição eles negavam.”.
  • Selamento eterno no casamento: Esta não é uma doutrina com fundamento bíblico. Na verdade, em lugar algum nas Escrituras se ensina que o ato do casamento confere divindade ao casal. Em Mateus 22:29, Jesus nos diz que na ressurreição, os humanos não vão se casar nem se dar em casamento, mas que serão como anjos no céu. E Romanos 7:2 deixa ainda mais claro que o casamento é uma aliança que vale enquanto vivemos aqui na terra. “Porque a mulher que está sujeita ao marido, enquanto ele viver, está-lhe ligada pela lei; mas, morto o marido, está livre da lei do marido.”.
  • Revelações posteriores: Este erro doutrinário é semelhante ao erro encontrado na seita adventista, e nós explicamos por que não são necessárias revelações posteriores (e o perigo destas revelações) ao cânon bíblico na primeira parte desta série. Confira aqui.
  • Preexistência da alma: Não é bíblica a afirmação de que “vivíamos com Deus como filhos espirituais desde a eternidade”. Na verdade, em Efésios 2:1-3, está escrito que nós estávamos “mortos em ofensas e pecados”, andávamos “segundo o curso deste mundo” e que éramos “filhos da ira”. O ensinamento bíblico sobre a filiação de Deus é que isso só acontece a partir do momento em que nos arrependemos dos nossos pecados e entregamos nossa vida a Jesus (Efésios 2:4-10 e João 1.12). A doutrina da preexistência da alma não possui respaldo nas Escrituras. Pelo contrário, a bíblia afirma que só Deus é eterno e imortal (1 Timóteo 6:15-16).
  • Salvação através do templo: No ensinamento bíblico, o templo tem um sentido espiritual, são as pessoas que passam a ser a habitação do Espírito Santo quando são verdadeiramente transformadas pela salvação em Cristo (1 Coríntios 6:19). Não existe um local específico para adoração e culto a Deus, e o que interessa não é local, mas sim o coração do adorador (João 4:24). Ademais, a salvação se dá somente pela fé em Cristo, não por meios materiais como obras ou locais. “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.” (Efésios 2:8).
  • Pluralidade de deuses: A bíblia deixa bem claro que não existe nenhum deus além do Senhor (Romanos 16:27). Todos os outros deuses são criações humanas e não passam de ídolos materiais (Salmo 115:4-8). Sobre a doutrina da trindade, a interpretação dos mórmons está fundamentada em um equívoco de definição. A doutrina da trindade não afirma que existem três deuses, mas sim que existe apenas um único Deus em três pessoas distintas, iguais em poder, em glória e em eternidade. As pessoas são distintas (Deus Pai, Deus Filho e o Espírito Santo), mas em essência é o mesmo Deus. Essa é a verdadeira definição da doutrina da trindade (Algumas referências: Mateus 28:19, 2 Coríntios 13:14 ,1 João 5:7-8, João 14:26, João 10:30, 1 Pedro 1:2).
  • Deus está em constante evolução: Esta doutrina, por definição, diminui a natureza eterna e infinita de Deus, transformando-o em um ser que não está em um estado pleno e definitivo, mas que ainda passa por um processo de desenvolvimento, como uma mera criatura. O deus do mormonismo parece ser um ser incompleto, que não conhece todas as coisas, e refém dos acontecimentos temporais. Este pensamento é totalmente contrário ao que as Escrituras dizem. Deus é imutável (Tiago 1:17), eterno (Salmo 90:2) e conhece todas as coisas, inclusive as que ainda não aconteceram (Salmos 139:3, 1 João 3:20, Atos 15:18).
  • Deus Pai tem corpo material: A bíblia é bem clara ao afirmar que Deus é espirito (João 4:24, Lucas 24:39 e 1 Timóteo 1:17). Somente Deus Filho, Jesus Cristo, tem um corpo material, sem pecado e glorificado, pois encarnou e viveu neste mundo. É importante aqui mencionarmos que algumas passagens bíblicas usam de expressões antropomórficas para expressar algumas ações de Deus (“a mão de Deus”, por exemplo), mas é apenas um recurso literário, uma forma de linguagem figurativa.
  • Aspectos cristológicos distorcidos: Jesus não tem nenhum laço de familiaridade com Lúcifer. Na verdade, a Bíblia nos diz que o Filho de Deus sempre existiu, e desde o princípio ele estava com Deus e era Deus (João 1:1). Em um dado momento da história, o Deus Filho encarnou como Jesus Cristo através de um nascimento virginal, um milagre descrito com clareza nos evangelhos (Lucas 1:26-32). Jesus não foi gerado de uma “mãe celestial”, foi gerado pelo Espírito Santo através de Maria (Mateus 1:20).
  • Salvação somente através da fé em Joseph Smith: Mais um aspecto comum encontrado em seitas, a alteração da soteriologia bíblica, acrescentando condições para favorecer ou tornar exclusiva a seita (o já conhecido “somente há salvação nesta denominação”). Mas o ensinamento bíblico é bem claro nesse aspecto também: Somente podemos ser salvos através da aceitação de Jesus como nosso Senhor e Salvador. Não há nenhum outro requisito adicional ou complementar que deva ser cumprido ou denominação exclusiva (João 3:16, João 14:6, Atos 4:12 e Marcos 13:22 faz um alerta para o surgimento de “falsos cristos” que tentarão se colocar no lugar de Jesus, alegando possuir a mesma autoridade).
  • Expiação de pecados pelo próprio homem: Esta doutrina contradiz o ensinamento bíblico. Em Mateus 16:26, fica claro que o homem não é capaz de expiar seus próprios pecados, e em Lucas 5:21 vemos que a capacidade de perdoar pecados pertence exclusivamente a Deus. Não há nada que o homem possa fazer para pagar pelos seus pecados, apenas arrepender-se deles e pedir perdão a Deus (Romanos 3:23, 1 João 1:9).

Conclusão

Fica difícil enquadrar o mormonismo até mesmo dentro do âmbito do cristianismo, considerando que possui tantas distorções e acréscimos às doutrinas ortodoxas. Negam conceitos essenciais para a fé cristã, como a doutrina da trindade, e a do nascimento virginal de Cristo, além de deturpar completamente as características do Deus bíblico. Diminuem a autoridade da Bíblia, elevando o profeta Joseph Smith a um nível quase divino. Além de tudo isso, o mormonismo está fundamentado em um livro pouco confiável, sem nenhuma comprovação histórica e arqueológica, e com requintes de plágio e pinceladas de erros textuais e contradições.


Referências

Mormonismo. Revista Defenda sua fé: Religiões e Religiosidade, Editora Cristã Evangélica, São José dos Campos – SP, 5ª reimpressão, p. 45-49, 2008.

Gundry, Robert Horton. Panorama do Novo Testamento / Robert H. Gundry; tradução João Marques Bentes, Fabiano Medeiros, Valdemar Kroker. — 3. ed. atual. e ampl. — São Paulo: Vida Nova, 2008.

INSTITUTO CRISTÃO DE PESQUISAS. Série Apologética. 1 ed. Editora Geográfica, 2017. v. 5.

CACP. Erros, Heresias e Contradições – II. 7 de Setembro de 2012. Disponível em: https://www.cacp.app.br/erros-heresias-e-contradicoes-ii/. Acesso em: 10 outubro 2022.

RINALDI, Natanael. A contraditória doutrina mórmon. Disponível em: https://www.icp.com.br/df44materia1.asp. Acesso em: 10 out. 2022.

 

 

Série Desmascarando Seitas – Parte II

Créditos da imagem: Yandex.com

” No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.”

(João 1:1)

Parte II – Testemunhas de Jeová

Na segunda parte desta série vamos tratar das Testemunhas de Jeová, uma seita que, ao contrário da igreja adventista, possui muito menos aceitação no meio cristão ortodoxo e apresentam características muito mais radicais e agressivas. Usam uma metodologia de evangelização antiquada e invasiva, abordando as pessoas em suas próprias casas, mas também possuem um amplo material didático com o qual conseguem disseminar suas crenças com uma roupagem evangélica mais “amigável”.

Estão no Brasil desde 1920, e desde então vêm crescendo e ganhando amplo espaço no país, que se tornou um dos maiores berços dessa seita.


A história das Testemunhas de Jeová

Também conhecidos como russellitas, as Testemunhas de Jeová são seguidores das doutrinas de Charles Taze Russell. O fundador da seita nasceu na Pensilvânia, Estados Unidos, em berço presbiteriano. Teve uma vida bastante conturbada, principalmente porque respondeu diversas ações judiciais em tribunais. Muitos desses processos contra ele foram movidos por sua própria esposa, que não suportava seus muitos casos amorosos e o regime ditatorial que ele estabelecia.

Russell abandonou a sua herança familiar presbiteriana e acabou migrando para a igreja congregacional por causa de seus conceitos mais liberais, e mais tarde foi atraído pelas doutrinas adventistas, onde estabeleceu as suas raízes doutrinárias.

Em 1872, Russell rompe seus laços com a igreja adventista e, junto com um pequeno grupo de leais seguidores, inicia um movimento independente que passou a se chamar de “Aurora do Milênio”. Esse movimento ganhou força e foi posteriormente rebatizado com o nome de “Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia”. Foi só em 1931, alguns anos após o falecimento de Russell, que o movimento se concretizou com o nome de “Testemunhas de Jeová”.

É importante esclarecer que após o falecimento de Russell, o movimento das Testemunhas de Jeová se dividiu em diversas facções. Mas foi com Joseph Franklin Rutherford, que era juiz, advogado e mais fiel seguidor de Russell, que as Testemunhas de Jeová se consolidaram nas formas atuais que conhecemos hoje.  


Principais doutrinas controversas

  • Tradução especial: A Bíblia convencional como conhecemos hoje, sempre causou embaraço às crenças das Testemunhas de Jeová, que precisavam usar textos fora de contexto e versículos isolados para fundamentar biblicamente suas doutrinas. Para “resolver” esse problema, eles elaboraram uma nova tradução da bíblia: A Tradução Novo Mundo. Esta tradução traz o texto bíblico original devidamente reescrito e adequado às distorções doutrinárias das Testemunhas de Jeová. Cabe esclarecer que a Tradução Novo Mundo das Escrituras não é uma tradução dos manuscritos originais, mas sim uma adaptação do texto em inglês, um arranjo da Versão Inglesa do Rei Tiago.
  • Exclusividade de interpretação: As Testemunhas de Jeová acreditam nas Escrituras, mas somente se for interpretada à luz dos Estudos das Escrituras, que é um material preparado por Russell e Rutherford.
  • Biteísmo: As Testemunhas de Jeová acreditam que Jesus é uma espécie de divindade inferior a Jeová e não partilha da mesma natureza do Deus Todo-Poderoso. Jesus é apenas “um deus”, a primeira das criaturas de Deus, de forma alguma igual ao Criador. Dessa forma, eles assumem a existência de dois deuses, ou seja, são biteístas.
  • Negação da divindade de Jesus: Conforme mencionado anteriormente, o fato de Jesus ser encarado como um “deus inferior” traz sérias consequências cristológicas. As Testemunhas de Jeová negam a encarnação de Cristo e não admitem que Jesus tenha duas naturezas (Deus e Homem). Por conseguinte, negam que Jesus seja capaz de fazer por si só a expiação completa por nossos pecados.
  • Negação da Trindade: As Testemunhas de Jeová negam a doutrina da Trindade, baseando-se em argumentações pífias sem sustentação bíblica. Eles afirmam que a ideia de trindades já existia nas comunidades pagãs, logo, não poderia existir no pensamento cristão. Eles também afirmam que a palavra “trindade” não aparece nas Escrituras. Logo, o conceito em si não poderia fazer parte do corpo doutrinário cristão. Eles também afirmam que a doutrina da Trindade é um mero conceito da razão humana.
  • Negação da pessoa do Espírito Santo: De acordo com o pensamento unitarista das Testemunhas de Jeová, o Espírito Santo não é uma pessoa da Trindade, mas sim uma “força ativa”, por meio da qual Deus realiza a sua obra. Para defender essa doutrina, eles usam duas linhas de pensamento: Primeiro, fazem uma comparação esdrúxula e isolada com o batismo nas águas de João Batista e o batismo com o Espírito Santo de Jesus. João Batista, ao dizer que Jesus batizaria com o Espírito Santo assim como ele batizava com água, mostrou que o Espírito Santo não é uma pessoa assim como a água não o é.

    Eles também usam a passagem de Provérbios 1:20-23 para afirmar que “personalizar algo não serve como prova de personalidade”. Na passagem de Provérbios, há uma personificação poética da sabedoria, mas as Testemunhas de Jeová entendem que deve ser feita uma relação desse recurso literário com as referências sobre o Espírito Santo, interpretando que a personificação da sabedoria não a torna uma legítima pessoa, logo o Espírito Santo tampouco deve ser entendido como uma pessoa.


  • Distorção do Céu e do Inferno: As Testemunhas de Jeová negam a existência de céu e inferno como se conhece na sã doutrina. Eles afirmam que o inferno é a morte física, a sepultura. E o céu seria o lugar onde Deus concretizará o seu reino junto com 144.000 testemunhas de Jeová. Ou seja, a salvação plena não é para todos, mas apenas para 144.000 pessoas que integram especificamente a religião.

Refutando as doutrinas controversas

  • Tradução Especial: A tradução “Novo Mundo” é uma tradução infiel aos manuscritos originais. Para a elaboração desta tradução, usaram-se também como base os textos dos eruditos ingleses Westcort e Hort. Conforme já mencionamos, o texto bíblico foi adaptado para se enquadrar às distorções doutrinárias das Testemunhas de Jeová, que não encontravam apoio nas Escrituras originais. A distorção mais conhecida é de João 1:1, onde no texto original diz que “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.”, mas na tradução “Novo Mundo” há uma significativa alteração no trecho onde diz “…e o Verbo era Deus”, adaptando-o para “…e o Verbo era um deus”. Obviamente uma adaptação forçada para tentar enquadrar o pensamento arianista de que Jesus era uma criatura de Deus, e um ser inferior a Jeová. Cabe destacar que nem mesmo o texto que foi usado como base para a elaboração desta tradução está de acordo com o pensamento das Testemunhas de Jeová. Nas palavras do próprio Westcort, ele afirmou que: “O predicado (Deus) encontra-se na posição inicial enfaticamente, como em João 4:24. É necessariamente sem o artigo…Nenhuma ideia de inferioridade de natureza é sugerida por essa forma de expressão, que simplesmente afirma a verdadeira deidade da palavra…na terceira cláusula declara-se que ‘a palavra’ é ‘Deus’, e assim incluída na unidade da divindade.”.

    Das mais de 2.000 línguas e dialetos em que a Bíblia está atualmente traduzida, as Testemunhas de Jeová conseguiram catalogar apenas nove traduções que estão de acordo com a versão “…e Verbo era um deus”. Mesmo destas nove traduções (que não estão de acordo com o texto original grego), duas são das Testemunhas de Jeová. Em suma, as traduções que as Testemunhas de Jeová alegam ter similaridade com a tradução “Novo Mundo” são, na maioria, traduções de teólogos liberais que nem ao menos creem em toda a Bíblia, de membros de seitas que negavam a divindade de Cristo ou com outras traduções das próprias Testemunhas de Jeová.


  • Exclusividade de interpretação: A Bíblia não nos diz que somente um grupo de pessoas está autorizado a interpretar as Escrituras. Na verdade, o que as Escrituras nos dizem é que o entendimento provém do Senhor (Lucas 24:45), que é o autor supremo das Escrituras. É o Espírito Santo quem nos ilumina e capacita a entendermos a mensagem divina. Se a revelação de Deus pretende guiar-nos a um relacionamento com Ele, e se ninguém conhece a mente de Deus senão o seu próprio Espírito (2 Coríntios 2:11), então, devemos receber o Espírito e sermos sensíveis a ele — em outras palavras, devemos ser espirituais — antes de podermos esperar entender as Escrituras em seu sentido supremo e autêntico.

  • Por outro lado, a Bíblia além de ser um livro divino, também é um livro humano. E é nesse aspecto que entram os conhecimentos de exegese e hermenêutica, que são técnicas que nos auxiliam na busca pela qualidade da interpretação do texto. Dada a natureza equívoca da comunicação humana, bem como a tendência de seu coração – seja o leitor leigo ou o acadêmico – em utilizar as Escrituras a seu favor e pensar que nosso entendimento é a mesma coisa que intenção do Espírito Santo ou do autor humano, a tarefa hermenêutica se mostra de suma importância, pois fornece os meios de entender as Escrituras e aplicar esse sentido de forma responsável.


    Dessa forma, fica evidente que a interpretação textual da Bíblia não se limita a apenas um grupo de pessoas capacitadas, mas a qualquer um que detenha tais conhecimentos, com a indispensável orientação do Espírito Santo. O corpo doutrinário que se consolidou na ortodoxia cristã é fruto de um longo trabalho de interpretação de diversos estudiosos que começou ainda nos primórdios da igreja primitiva, e que é muito diferente do que acontece nas Testemunhas de Jeová, que simplesmente ignoram o legado e tradição de todo um esforço milenar em favor de um grupo seleto de pessoas de autoridade inquestionável, e convenientemente da mesma organização.


  • Biteísmo: O pensamento unitarista das Testemunhas de Jeová nada mais é do que uma forma moderna do arianismo, uma heresia que surgiu nos primeiros séculos da igreja cristã, e que foi oficialmente condenada no concílio de Nicéia em 325 d.C (leia mais neste artigo). Assim como o arianismo defende que Jesus é um ser criado, diferente em essência do Pai e menor que Deus, as Testemunhas de Jeová compartilham o mesmo pensamento. O grande problema é que acabam fugindo do conceito monoteísta e criando uma realidade onde existem dois deuses, ou um deus maior e um deus menor (Conforme adulteração de João 1:1 na tradução Novo Mundo). A bíblia condena qualquer forma de teísmo que não seja monoteísta, e nega a existência de qualquer deus que não seja o Senhor dos Exércitos (1 Crônicas 17:20, Isaías 45:5, Romanos 16:27, Marcos 12:29).
  • Negação da divindade de Jesus: Nós já elaboramos um artigo tratando a respeito das características de Jesus, caso não tenha lido, informe-se aqui. Para resumir: Jesus é Deus Filho, e possui tanto a natureza humana quanto a natureza divina (Mateus 1:23, João 5:19,21, Romanos 9:5, Colossenses 1:16), sempre existiu na forma de Deus e encarnou em um corpo físico (João 1:1, João 1:14, Atos 1:1, 1 Timóteo 3:16), ressuscitou (Lucas 24:39-41, Romanos 4:25, Hebreus 10:11-14) e voltará para julgar o mundo (João 14:3, 1 Tessalonicenses 1:10, 2:19, 3:13, 4:14-17). Existem diversas outras passagens que demonstram a natureza divina de Jesus (João 8:58, João 14:6-7, João 10:30, João 10:33, Marcos 2:5) comparando-a com a de Deus Pai. Negar essa realidade é contrariar aquilo que o que o Novo Testamento revela e ocasiona um sério problema teológico. Como tipicamente se encontra nas características de uma seita, a cristologia é quase sempre afetada, seja diminuindo o poder de Jesus ou distorcendo sua natureza.
  • Negação da Trindade: Como já mencionamos anteriormente, as Testemunhas de Jeová seguem um pensamento unitarista, onde se exclui a pluralidade de pessoas na divindade. Eles só aceitam a pessoa de Deus Pai na figura de Jeová. O problema é que o unitarismo não se encaixa com o que a Bíblia nos diz a respeito da pessoalidade de Deus. A negação da trindade pelas Testemunhas de Jeová parte de um entendimento equivocado sobre esta doutrina. A Bíblia nos diz que há um só Deus e que Ele é um só, mas também ensina que o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus. A doutrina da trindade não defende a ideia de três deuses, mas de um único Deus com uma pluralidade de pessoas. A substância (essência) divina é única. Alguns dos muitos versículos que transparecem a natureza trinitária de Deus: Mateus 28:19, João 10:30, 1 Coríntios 12:4-6, 2 Coríntios 13:14, Efésios 4:4-6, 1 Pedro 1:2).

    Simplesmente dizer que a doutrina da trindade é errada porque a palavra “trindade” não aparece na Bíblia não é um argumento sustentável, pois existem inúmeros outros conceitos bíblicos que não são mencionados nominalmente nas Escrituras, mas sabemos que existem, como a onipresença, onisciência e onipotência de Deus. E apelar para o argumento de que “a trindade é um reflexo de outras religiões pagãs” é beirar o absurdo. Semelhanças não implicam necessariamente em inverdades. Por fim, fica evidente que para se negar a doutrina da trindade e justificar teologicamente o unitarismo é preciso eliminar e adulterar muitas passagens bíblicas, ou então simplesmente ignorar a Bíblia e buscar argumentos insustentáveis.


  • Negação da pessoa do Espírito Santo: Existem inúmeras referências bíblicas que caracterizam a pessoalidade do Espírito Santo, e que vão muito além de uma simples figura de linguagem poética (como ocorre com a menção à sabedoria em Provérbios 1:20-23, por exemplo) e caminham na contramão do entendimento de que o Espírito Santo seja apenas uma “força ativa”.

    Alguns exemplos que evidenciam características de personalidade do Espírito Santo: Ensina (João 14:26), fala (Apocalipse 2:7, 11, 17), clama (Gálatas 4:6), convence (João 16:7-8), intercede (Romanos 8:26), se entristece (Efésios 4:30), é possível obedecê-lo (Atos 10:19,21), é possível mentir para o Espírito Santo (Atos 5:3), é possível blasfemar contra o Espírito Santo (Mateus 12:29-31).


    Algumas passagens bíblicas que evidenciam a divindade do Espírito Santo: onipotência (Zacarias 4:6, Romanos 15:19), onipresença (Salmo 139:7-10), onisciência (1 Coríntios 2:10-11), eternidade (Hebreus 9:14). Todas estas referências bíblicas são evidências cumulativas que jogam por água abaixo os poucos e fracos argumentos a favor das Testemunhas de Jeová.


  • Distorção do Céu e do Inferno: É impossível negar os textos bíblicos que falam a respeito da realidade do céu e do inferno. Primeiramente, as Escrituras deixam claro que o céu é o lugar onde todos os salvos morarão com Deus (Filipenses 3:20-21, João 14:2, Apocalipse 21:3-4, 2 Coríntios 5:1). Sabemos também que os salvos não serão apenas 144 mil Testemunhas de Jeová, mas uma multidão incontável (Apocalipse 7:9-17, 19:1). A respeito do inferno, temos passagens que deixam claro que se trata de um lugar preparado para o Diabo e seus anjos (Mateus 25:41, 2 Pedro 2:4, Apocalipse 20:1-3) e que também será um lugar de castigo eterno (Salmos 9:17, Mateus 5:22, 8:12; 13:41-42; Lucas 16:25, 28; 1 Tessalonicenses 1:9-10; Apocalipse 19:20; 20:15; 21:8).

Conclusão

Por negarem os princípios essenciais do cristianismo, como a divindade e a dupla natureza de Jesus, salvação pela morte de Jesus Cristo em nosso lugar, a pessoalidade do Espírito Santo e rejeitar a doutrina da Trindade, podemos concluir que as Testemunhas de Jeová são uma seita que está muito distante da verdade das Escrituras. Vimos também que elas usam argumentos insustentáveis para defender suas distorções doutrinárias, além de recorrer a materiais extrabíblicos, como os escritos de Russel e Rutherford. Eles utilizam uma tradução da Bíblia que é pouco confiável e que apresenta grotescas adulterações, como no texto de João 1:1.


Referências

Testemunhas de Jeová. Revista Defenda sua fé: Religiões e Religiosidade, Editora Cristã Evangélica, São José dos Campos – SP, 5ª reimpressão, p. 50-54, 2008. 

O RUSSELISMO. CACP, 2021. Disponível em: https://www.cacp.app.br/o-russelismo/.  Acesso em: 27 ago. 2022.

AS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ no Brasil. CACP, 2013. Disponível em: https://www.cacp.app.br/as-testemunhas-de-jeova-no-brasil/. Acesso em: 27 ago. 2022.

A TRADUÇÃO NOVO MUNDO e suas perversões. CACP, 2012. Disponível em: https://www.cacp.app.br/a-traducao-do-novo-mundo-e-suas-perversoes/ Acesso em: 28 ago. 2022.

Série Desmascarando Seitas – Parte I

Créditos da imagem: Gavin Allanwood

“Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos.”

(Mateus 24:24)

Introdução

Por que o estudo de seitas é importante para a vida cristã? Em primeiro lugar, é importante para que o cristão esteja vigilante para que não seja enganado por falsas doutrinas, que muitas vezes se apresentam como verdades de Deus, ou então usam verdades bíblicas como uma porta de entrada para “seduzir” os cristãos a caminhos tortuosos. Em segundo lugar, ao estudarmos doutrinas heréticas também estamos reafirmando as doutrinas verdadeiras, pois para identificar que algo está errado precisamos saber o que é o certo primeiro. E, por último, é importante para o cristão conhecer os erros doutrinários de outras denominações para estar munido de uma mensagem evangelística, alertando outras pessoas que podem ter sido enganadas por não terem suficiente informação teológica para discernir, e desse modo poder lhes trazer a luz da verdade.

A série ‘Desmascarando Seitas’ busca apresentar aos leitores um resumo das principais características que fundamentam as principais denominações autointituladas cristãs, mas que possuem doutrinas estranhas e heréticas em seu corpo doutrinário. Cada parte abrangerá uma denominação específica (Adventistas, Testemunhas de Jeová, Mórmons e Espiritismo), onde apresentaremos um breve histórico do surgimento da denominação e os aspectos doutrinários controversos que professa, confrontando-os à luz das Escrituras e da interpretação ortodoxa. Caso o leitor não tenha um entendimento pleno de como definir ou identificar uma heresia, temos um artigo específico para tratar do assunto de forma geral.


Parte I – Igreja Adventista do sétimo dia

A igreja adventista do sétimo dia é uma denominação considerada genuinamente cristã em diversos grupos evangélicos, porém, não por unanimidade. Na verdade, uma grande parte do seu corpo doutrinário está de fato de acordo com as Escrituras, porém, outra parte de suas doutrinas foge da revelação de Deus e apela para interpretações heréticas. Também possui características sectárias, conforme vamos desvendar mais adiante. É importante deixar claro que o adventismo de que vamos tratar neste artigo é o adventismo sabatista (ou adventismo do sétimo dia).  Existem diversas variações dentro da denominação adventista, mas a maior e mais conhecida aqui no Brasil é o nosso objeto de estudo.


A história do adventismo

O adventismo teve origem nos Estados Unidos no início do século XIX, numa época onde houve um grande “despertar” no meio evangélico para questões sobre a volta de Cristo, os últimos tempos, o juízo final e o arrebatamento. Um pastor batista de Nova Iorque chamado William Miller foi o precursor do que mais tarde seria a raiz do movimento adventista. Muito conhecido por suas pregações a respeito da volta de Cristo, elaborou a sua própria interpretação sobre o texto de Daniel 14 (a respeito da visão das 2300 tardes e manhãs), e, após alguns cálculos, chegou à conclusão “profética” de que Jesus voltaria em 1843 e 1844. Por causa do “despertar” que se vivia na época, a mensagem do pastor ganhou ampla aceitação e viu seu grupo de fiéis aumentar exponencialmente.

Como já era de se esperar, os cálculos “proféticos” de Miller revelaram-se equivocados e a tão esperada volta de Cristo não aconteceu. Após esse episódio de profunda frustração, que ficou conhecido como “O Grande Desapontamento”, Miller retirou-se de cena e não ousou voltar a “remarcar” a volta de Cristo. Entretanto, três de seus mais fervorosos seguidores se uniram para estabelecer o que seria o fundamento da igreja adventista, baseados numa reinterpretação dos cálculos de Miller.

Hiran Edson, que além de discípulo também era amigo de Miller, alegou ter recebido uma nova revelação de Deus logo após o fracasso profético de Miller. A revelação buscava “corrigir” a interpretação errônea de Miller. Segundo Edson, Jesus não havia saído do santo lugar para vir à Terra, mas sim para entrar no segundo compartimento do santuário celeste (uma referência à estrutura do templo em Israel) para realizar uma obra de purificação. Ou seja, na visão de Edson, Miller não estava errado na data calculada, mas sim no movimento que seria realizado por Jesus nessa data. Ele não viria para a Terra naquela ocasião, mas faria um movimento para outro local. Hiran Edson e seus seguidores, insistindo nessa revelação, terminaram por unir-se com dois grandes grupos liderados por outros seguidores de Miller: O grupo liderado por Joseph Bates (cuja ênfase estava na guarda do sábado) e o grupo liderado por Ellen G. White (cuja ênfase estava dons do Espírito Santo).

Da junção destes três grandes grupos surge, então, o movimento adventista.


Principais doutrinas controversas

  • Revelações adicionais e fonte de autoridade: Embora os adventistas afirmem que a Bíblia é a sua maior autoridade doutrinária e regra de fé, eles acreditam que os ensinos de Ellen White possuem a mesma autoridade e grau de inspiração, incorporando suas revelações ao fundamento de suas doutrinas. “Tudo quanto ela disse e escreveu foi puro, elevado, cientificamente correto e profeticamente exato.” (Retirado do livro adventista Sutilezas do Erro) Ou seja, para os adventistas, as Escrituras não são suficientes como plena revelação de Deus, é necessário complementar ou agregar ao seu conteúdo os ensinos proféticos de Ellen White. “Negamos que a qualidade ou grau de inspiração dos escritos de Ellen White seja diferente dos encontrados nas Escrituras Sagradas.”. (Revista Adventista, ed. 1984, p. 37)
  • Exclusivismo: A igreja adventista afirma que somente os adventistas são o povo de Deus, o remanescente da profecia bíblica. “Eu creio no futuro brilhante do movimento adventista, porque não somos uma simples igreja entre as demais, nós somos o remanescente de Deus para o tempo do fim.” (Artigo da revista adventista, 2001, p.10). Na revista adventista americana, The Review And Herald, foi citado que: “As igrejas denominacionais caídas são Babilônia. A Babilônia tem estado a promover doutrinas venenosas, o vinho do erro, esse vinho é composto de doutrinas falsas, como a imortalidade da alma, o tormento eterno dos ímpios, a negação da existência corpórea de Cristo antes de seu nascimento, e a defesa do primeiro dia da semana acima do santo dia de Deus que é o Sábado.”. (artigo de 12 de setembro de 1893)
  • Pré-existência de Jesus na forma de Miguel: Ellen White, no livro Os Patriarcas (na página 366), lança a revelação de que Jesus e o arcanjo Miguel são a mesma pessoa. Ou seja, Jesus já existia antes de encarnar na forma humana, mas ele assumia a forma do arcanjo Miguel. A base para essa interpretação herética está em Judas 1:9, que diz: “Mas o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele; mas disse: O Senhor te repreenda.”. No livro Early Writings, de 1882, Ellen White declara que: “Moisés passou pela morte, mas Miguel veio e lhe deu vida eterna antes que seu corpo visse a corrupção. Satanás tentou segurar o corpo reclamando como seu, mas Miguel ressuscitou Moisés e o tomou para o céu. Satanás rebelou-se cruelmente contra Deus acusando-o de injusto, permitindo que sua presa fosse tomada dele, mas Cristo não repreendeu seu adversário, humildemente se submetendo ao Pai dizendo: O Senhor te repreenda.” (p. 164)
  • A natureza pecaminosa de Jesus: Um dos ensinos adventistas é o de que Jesus tinha pecado. No livro Estudos Bíblicos (p. 140, 141), o ensino adventista declara: “Em sua humanidade, Cristo participou de nossa natureza pecaminosa caída, se não fosse assim, ele não teria sido feito como seus irmãos e não poderia ter sido tentado como todos e não venceu como temos de vencer. Portanto, ele não seria o perfeito e completo salvador. A ideia de que Cristo foi nascido de uma mãe imaculada e sem pecado [conforme os católicos alegam], que Jesus não herdou tendências para o pecado, e que por isso não pecou, essa doutrina remove Jesus do mundo caído e do próprio lugar onde ajuda é necessária. Em seu lado humano, Cristo herdou exatamente o que todo filho de Adão herda: Uma natureza pecaminosa caída.”.
  • Salvação por obras: Muito embora o posicionamento oficial da igreja adventista seja afirmar que a salvação se dá pela graça redentora de Cristo, alguns ensinos de Ellen White parecem indicar o contrário. No seu livro Testimonies For The Church, ela menciona que: “…Cada membro do corpo de Cristo deveria sentir que a salvação de sua própria alma depende de seus próprios esforços individuais.”
  • Guarda do Sábado: Os adventistas possuem um “apreço” pela guarda do sábado que vai muito além de um simples dia de descanso e dedicação ao Senhor, elevando-o até mesmo a uma condição para salvação. Ainda no seu livro Testimonies For The Church, volume III, página 23, Ellen White afirma que: “(…) santificar o sábado ao Senhor importa em salvação eterna.”. Já no livro O grande Conflito, na página 605, ela também diz que “O sábado (…) é o ponto da verdade especialmente controvertido, quando sobrevier aos homens à prova final, será traçada a linha divisória dos que servem a Deus e os que não o servem.” (fazendo uma referência aos que guardam o Sábado).
  • Incerteza da salvação: A igreja adventista nega que o cristão convertido possa ter a certeza da salvação. No livro Christ’s Object Lessons, Ellen White afirma que: “Aqueles que aceitaram o salvador, embora sinceros em sua conversão, nunca deveriam ser ensinados a dizer ou sentir que são salvos.”.
  • Sono da alma: No pensamento adventista, ao morrer, o homem entra num estado de sono (inatividade completa), esperando o “despertar” na ressurreição no juízo final. No livro Nisto Cremos, os adventistas dizem que “A morte é um estado inconsciente para todas as pessoas. As almas dos justos dormem até a ressurreição e o juízo final. Esse sono da alma é um estado de silêncio, inatividade inteira e inconsciência.”. Ellen White ainda afirma que: “A teoria da imortalidade da alma foi uma das falsidades que Roma tomou emprestadas do paganismo e incorporou na cristandade.”.

Refutando as doutrinas controversas

  • Revelações adicionais e fonte de autoridade: Em Hebreus 1:1, fica claro que: “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho”. Nessa passagem nós vemos que a revelação progressiva de Deus para a humanidade, iniciada através dos profetas nos tempos antigos, se completou na obra redentora de Cristo e nos registros apostólicos. Jesus é o portador da última revelação de Deus. A revelação de Deus não ficou incompleta: Tudo o que nós precisávamos saber a respeito dos planos de Deus para a redenção da humanidade estão contidos no cânon sagrado. Qualquer revelação posterior ao fechamento do cânon que venha a acrescentar (ou complementar) algo ao que já foi revelado, ou nos trazer uma nova verdade, desafia o que a Bíblia nos ensina.
    Sobre a questão da fonte de autoridade, a Bíblia nos alerta sobre falsos profetas e nos ensina a identifica-los. Em Deuteronômio 18:20-22 vemos que qualquer profecia que não se cumprir conforme foi revelada, não vem de Deus, e quem a profetizou é falso.  Como vimos a respeito da origem da igreja adventista, está fundamentada numa falsa profecia da volta de Cristo que não se cumpriu, muito embora Hiran Edson tenha forçado uma mudança de interpretação na profecia de Miller, no mínimo deve-se de admitir que “Deus errou” ao transmitir sua profecia com exatidão, já que a profecia inicial de Miller estava equivocada. A própria Ellen White também profetizou a volta de Cristo antes da escravidão ser abolida (no seu livro Early Writtings, p. 35), sem considerar muitas outras profecias que falharam em se cumprir. A Bíblia é a nossa única fonte de autoridade, regra de fé e prática para a vida e o caráter do cristão. É a palavra de Deus divinamente inspirada (2 Timóteo 3:16), e nenhum profeta posterior pode se equiparar em grau de autoridade aos profetas e apóstolos bíblicos (2 Pedro 1:20,21).
  • Exclusivismo: Conforme já mencionamos em nosso artigo sobre heresias, uma das características mais comuns em grupos sectários é o de identificar-se como “a única igreja verdadeira”, dando ênfase na denominação e não na salvação através da graça redentora de Cristo. A Bíblia é bem clara em relação a essa questão, versículos como João 3:16, João 14:6 e Atos 16:30-31 são apenas algumas passagens que atestam que a salvação está em Cristo, não em uma determinada denominação.
  • Pré-existência de Jesus na forma de Miguel: Em primeiro lugar é importante deixar claro que a eternidade de Jesus, como Deus, é indiscutível. Jesus sempre existiu. No primeiro capítulo do evangelho de João vemos uma descrição clara a respeito da eternidade do Filho de Deus, o Verbo. Porém, em um determinado momento da história Jesus encarnou, tomando forma humana, fato que ocorreu há aproximadamente 2 mil anos atrás. Antes do nascimento virginal de Jesus, a Bíblia não nos revela nada a respeito de Jesus ter assumido outras formas, muito menos que ele tenha existido como um anjo. Na verdade, temos tão poucas referências bíblicas sobre o arcanjo Miguel que é arriscado associá-lo à figura de Cristo. Mas, mesmo assim, biblicamente falando temos argumentos suficientes para não acreditar nessa interpretação. Primeiro, Miguel não é Deus. No episódio em que ele disputa com o Diabo (Judas 1:9), ele responde: ”O Senhor te repreenda”, dando a entender que ele não tinha autoridade divina. Em Hebreus 1:4 vemos que Jesus tampouco era um anjo e estava muito acima deles, pois “foi feito mais excelente do que os anjos”.
    Algumas pessoas que defendem a pré-existência de Jesus na forma de Miguel usam o versículo de 1 Tessalonicenses 4:16 para associar a “voz de arcanjo” com a voz de Jesus, porém as Escrituras não deixam claras a qual arcanjo se refere. Só pelo fato de não termos citações de outros arcanjos além de Miguel, não significa que ele seja o único arcanjo que exista, e na verdade em Daniel 10:13 fica implícito que existiam outros (“Miguel, um dos primeiros príncipes”).
  • A natureza pecaminosa de Jesus: Existem vários versículos bíblicos que desmentem essa doutrina. Hebreus 4:15 diz que “Como nós, [Jesus] em tudo foi tentado, mas sem pecado”. Da mesma forma, 1 Pedro 2:22 nos diz que “Jesus não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano”. Além do extenso material bíblico que encontramos, o próprio sentido soteriológico do sacrifício de Cristo exige que Jesus não tenha pecado. O sacrifício de Jesus na cruz foi um sacrifício vicário, isto é, foi uma morte substitutiva, ele entregou sua vida por nós, morreu para pagar nossos pecados. Seu sacrifício não seria válido se ele fosse um pecador como todos os humanos, pois se assim fosse, então ele estaria morrendo apenas por seus próprios pecados. Analogamente aos sacrifícios do antigo testamento, em que era necessário ofertar um animal sem defeito algum, o sacrifício de Cristo exigia que o cordeiro (Jesus) fosse perfeito e puro (sem pecado). Afirmar que Jesus era um pecador é o mesmo que invalidar a eficácia da sua obra redentora na cruz.
  • Salvação por obras: As Escrituras também deixam bem claro que a salvação não se dá pelas obras que realizamos, mas sim pela graça redentora de Deus. (Efésios 2:8-9). A salvação é um presente que Deus nos dá, não algo meritório ou fruto de um trabalho de “colaboração” com Deus. Romanos 6:23 também reforça que a salvação é um “dom gratuito de Deus” por meio de Jesus Cristo. Aqui, é necessário fazer uma breve observação em relação ao texto de Tiago 2:24, onde diz que uma pessoa é justificada pelas obras, e não somente pela fé. Se lermos o texto isoladamente e fora de contexto, somos inclinados a interpretar como se Tiago estivesse defendendo a doutrina da salvação por obras, mas fazendo uma análise adequada percebemos que não é essa a interpretação correta do texto. O que Tiago estava ensinando nessa passagem é que uma pessoa verdadeiramente convertida vai apresentar boas obras ao longo da sua caminhada na fé cristã. As boas obras são resultado de um coração transformado por Cristo. É incontestável o fato de que a Bíblia não ensina salvação por obras.
  • Guarda do Sábado: Já explicamos a respeito de como os cristãos devem guardar o sábado em um artigo anterior, mas para resumir: O sábado não deixou de existir como mandamento, todavia, ele é um conceito e não necessariamente o dia de sábado do nosso calendário atual (ou seja, o “sábado” pode ser celebrado em qualquer dia da semana, inclusive no domingo). O sábado nada mais é do que um dia de descanso do trabalho secular para nos dedicarmos à obra do Senhor. O dia em si não possui propriedades salvíficas (ou seja, ninguém vai ser salvo apenas pelo fato de guardar os sábados) e o homem não deve se tornar “refém do sábado”, pois Jesus é o senhor do sábado. Inclusive, existem várias razões históricas pelas quais os cristãos passaram a guardar o domingo como o “sábado”. Primeiro, pelo fato de Jesus ter ressuscitado no domingo (Marcos 16:1), depois, pelo dia de Pentecostes (que foi num domingo), ademais, sabemos também que os primeiros cristãos se reuniam aos domingos (Atos 20:7), e existem várias fontes históricas com citações dos pais da igreja que confirmam que a prática do domingo já acontecia muito antes de Constantino oficializar a religião cristã no império romano (desmentindo o que os adventistas dizem, de que a prática de guardar o domingo surgiu por instituição do império romano). Por exemplo, em uma carta de Inácio de Antioquia , no ano 107 d.C., ele declara que “Não mais observamos o sábado, vivemos na observância do dia do Senhor, no qual também nossa vida reviveu por ele em sua morte.”.
  • Incerteza da salvação: As Escrituras nos dão o subsídio suficiente para podermos afirmar com plena certeza de que pela graça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo estamos salvos. São inúmeros os versículos que transparecem a ideia da salvação em Cristo como uma garantia, como João 3:16, 1 João 5:12, Atos 16:31 e Atos 2:21. Não existe nenhum versículo bíblico que ensine que o cristão convertido não pode ter certeza da sua salvação. Por mais que o cristão passe por momentos de turbulência espiritual na sua caminhada na fé, se ele foi verdadeiramente transformado por Cristo, está salvo.
  • Sono da alma: Esta doutrina se baseia numa interpretação literal das Escrituras nas passagens onde se refere a morrer como “adormecer” (para citar alguns exemplos: 1 Reis 2:10, João 11:12, Mateus 27:52, 1 Coríntios 15:18). Mas, fazendo uma análise mais aprofundada do sentido do texto, entendemos que não é essa interpretação adequada. O sentido do “adormecer” não está relacionado ao que acontece após a morte (como se alma entrasse em um estado de adormecimento/inconsciência total), mas sim à passagem da morte para o plano espiritual, que é como um “adormecer”. É uma expressão figurada, ou seja, “adormecemos” (morremos) para depois “acordar” (ressuscitar).
    A respeito do que acontece após a morte, a parábola do rico e Lázaro, em Lucas 16, nos revela um vislumbre. Nesta parábola, Jesus deixa bem claro que as pessoas ao morrer permanecem conscientes, e inclusive levam consigo as lembranças da vida terrena. Não há nada que nos leve a crer que há um estado de inconsciência e adormecimento da alma após a morte.
    Ainda neste contexto, os adventistas também acreditam na mortalidade da alma (ou seja, a alma morre após a morte física), o que também é um ensino que não tem fundamento bíblico. A bíblia na verdade nos ensina a doutrina da imortalidade da alma, como podemos ver nas passagens de Mateus 10:28, Eclesiastes 12:7 e Lucas 20:37, por exemplo.

Conclusão

Diante de tudo o que foi apresentado, é muito difícil afirmar que a igreja adventista seja uma denominação cristã verdadeira. Apesar dos adventistas não negarem alguns dos principais aspectos da doutrina cristã ortodoxa, muitas das suas doutrinas são fundamentadas em distorções teológicas, revelações pós-bíblicas e até mesmo contradições com o texto bíblico. A principal profetisa dos adventistas, Ellen White, já demonstrou estar equivocada em várias de suas profecias, o que torna a situação da denominação ainda mais perigosa, já que elevam um falso profeta à condição de profeta inspirado (e com autoridade para doutrinar), considerando ainda que seus textos e suas revelações estão fortemente enraizados no corpo doutrinário do movimento adventista.

Esperamos que a primeira parte desta série tenha sido de edificação e de alerta para os cristãos mais desavisados que aceitam todo tipo de denominação que se apresenta sob o rótulo de “cristã” ou “evangélica” como verdadeira. Nos últimos tempos, o movimento adventista tem realizado um notável esforço para se infiltrar no meio cristão e dissipar sua imagem de grupo sectário, mas quando conhecemos a verdade, podemos estar seguros de que não seremos enganados.


Referências 

NICODEMUS, Augustus, Seitas e Heresias: Adventismo. Youtube. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=iUohO2MSot8&t=3719s>. Acesso em: 22 de jul. 2022.

13 FALSAS profecias de Ellen G. White. CACP, 2022. Disponível em: http://www.cacp.org.br/13-falsas-profecias-de-eg-white/. Acesso em: 22 jul. 2022.

Controvérsias Cristológicas

Créditos da imagem: Andika Christian

“Porque, se alguém for pregar-vos outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, com razão o sofreríeis.”

(2 Coríntios 11:4)

No artigo anterior, vimos as principais características de Jesus conforme estão apresentadas nas Escrituras. Entendemos a sua natureza, a sua missão e o significado do seu sacrifício. Todavia, é importante ressaltar que ao longo da história do cristianismo existiram diversas correntes de pensamento que tentaram deturpar a verdade bíblica, sempre tentando distorcer alguns aspectos da natureza de Cristo, ou do seu ministério, ou  diminuindo o alcance do seu poder, e até mesmo introduzindo ideias que não estavam nos textos originais. Algumas dessas correntes deixaram de existir, outras deixaram alguns legados, e algumas ganharam outros nomes e existem até os dias de hoje, e permanecem contaminando a comunidade cristã apresentando falsos Cristos.

Neste artigo, que é um apêndice do artigo anterior, vamos discorrer a respeito de algumas dessas heresias cristológicas primitivas. É importante conhecê-las para estar devidamente preparado para enfrentar e rejeitar toda e qualquer armadilha teológica que busque corromper a verdadeira imagem de Cristo.


Gnosticismo

Fruto da influência do neoplatonismo e do pensamento grego em geral, o gnosticismo foi uma seita (ou um conjunto de diferentes correntes heréticas) que se desenvolveu na época da igreja primitiva. O gnosticismo se caracterizava, de forma geral, pela rejeição à matéria, considerando-a essencialmente maligna. Esse pensamento consequentemente levou à negação da encarnação do Verbo, ou seja, de acordo com o gnosticismo, Jesus não podia ter se encarnado em um corpo material, já que a matéria é o pecado. Ademais, postulava posições absurdas a respeito da morte e ressurreição de Cristo.

É muito provável que os escritos do apóstolo João no Novo Testamento foram redigidos visando combater as heresias do gnosticismo a respeito de Cristo.


Sabelianismo

A palavra Sabelianismo deriva de Sabélio, que foi um bispo que viveu no século III d.C. Também conhecido como monarquismo modalista, o sabelianismo defende a ideia de que Deus é uma única pessoa, e não uma trindade como se entende na doutrina ortodoxa. Deus Pai e Deus Filho são apenas manifestações diferentes da mesma pessoa, ou seja, são modos de Deus se apresentar para a humanidade.

Nem é preciso mencionar o quão contraditório é este posicionamento teológico, basta lembrar das passagens em que Jesus conversa com Deus Pai, que não fariam sentido algum se ambos fossem a mesma pessoa.

O sabelianismo foi duramente condenado como heresia ainda no século III, porém, ainda nos dias de hoje existem igrejas de viés modalista/unicista.


Monarquianismo Dinâmico

O monarquianismo dinâmico surgiu em Roma por volta de 190 d.C. com Teodoto de Bizâncio, e defende a ideia de que Jesus era um homem comum (desprovido de qualquer natureza divina), e que foi “adotado” por Deus como seu Filho durante a ocasião do seu batismo. Ou seja, Deus veio a Jesus como um poder (daí a expressão “dinamismo”, representando um “movimento de forças”) que o capacitou como profeta, negando o fato de que Jesus era o Verbo divino encarnado.

O monarquianismo dinâmico, por contradizer a clara evidência da natureza hipostática de Jesus, foi declarado herético pelo sínodo de Antioquia.


Ebionismo

Surgiu no século I d.C. e tinha como principal característica negar a ação sobrenatural do Espírito Santo na geração de Jesus. O Ebionismo defende que Jesus foi gerado por José e não através de um nascimento virginal, conforme narram as Escrituras. Por conseguinte, também negavam o fato de Jesus ser Deus (apesar de considerá-lo como Messias) e rejeitavam os escritos do Novo Testamento, aceitando apenas o Antigo, exaltando o fato de que tanto judeus quanto gentios deviam seguir rigorosamente a lei da Torá.


Cerintianismo

Fundado por Cerinto, um dos primeiros líderes da escola do gnosticismo, professava que o espírito de Cristo veio a Jesus durante o seu batismo, capacitando-o e guiando-o durante o seu ministério (postura similar ao monarquianismo dinâmico). Porém, o espírito de Cristo abandonou Jesus durante a crucificação. O cerintianismo professa que Jesus ressuscitará dos mortos nos últimos dias, quanto todos os homens se levantarão com ele. Evidentemente, esta heresia cristológica nega o nascimento sobrenatural de Jesus, coincidindo em alguns aspectos com o Ebionismo.


Docetismo

O docetismo é uma corrente de pensamento originada no século II que professava a ideia de que o corpo físico de Cristo era uma ilusão, ele não era verdadeiramente material como qualquer outro ser humano. Consequentemente, afirma que Jesus não morreu efetivamente no calvário, tudo foi uma questão de aparência.

O apóstolo João fez questão de refutar essa doutrina no primeiro capítulo do seu evangelho, quando enfatiza que “o Verbo se fez carne”, uma clara alusão de que Jesus realmente teve um corpo físico humano. Posteriormente, alguns influentes teólogos como Inácio de Antioquia e Irineu de Lião contribuíram para a erradicação do docetismo.


Arianismo

O arianismo surgiu durante o século IV d.C., com as doutrinas heréticas de Ário, então presbítero de Alexandria. Em linhas gerais, o arianismo nega que Jesus tenha uma natureza divina igual com Deus, e que seja uma pessoa da trindade, colocando-o como uma criatura, a mais elevada de todas, porém não gerada por Deus. Foi uma das maiores heresias da história da igreja, que motivou a realização do Concílio de Niceia em 325 d.C.

Apesar de ter sido considerado heresia desde tal concílio, o arianismo sobreviveu na clandestinidade e ganhou novas formas ao longo do tempo. Hoje em dia ainda há denominações que se fundamentam no viés arianista (que podem ser chamadas de “unitaristas”). As Testemunhas de Jeová representam o arianismo moderno, chegando ao ponto de alterar as Escrituras para atender à sua interpretação, que considera Jesus como “um deus”, porém não com as mesmas características substanciais de Deus e muito menos uma pessoa da trindade.


Apolinarianismo

O apolinarianismo, proposto por Apolinário de Laodicéia no século IV d.C., consiste na rejeição da natureza humana de Jesus, exaltando apenas a sua natureza divina. Apolinário acreditava que o espírito humano era sede do pecado, e tentou proteger a impecabilidade de Jesus advogando sua autêntica divindade, afirmando que Jesus possuía apenas um espírito divino que o impossibilitaria de passar por tentações genuínas.

Enquanto tentou se contrapor ao arianismo, o apolinarianismo caiu no erro de negar a autenticidade da natureza humana de Jesus Cristo. O apolinarianismo foi declarado heresia no concílio de Constantinopla (em 381 d.C.).


Nestorianismo

Esta doutrina cristológica foi proposta por Nestório (patriarca de Constantinopla) e se desenvolveu no século V d.C.. O nestorianismo professava que havia uma dupla pessoalidade em Jesus Cristo, sendo uma pessoa humana e outra divina, completas de tal forma que constituem dois seres independentes. Ou seja, no nestorianismo Jesus não possuía uma natureza hipostática, mas sim duas naturezas desunidas.

Foi considerado heresia no concílio de Éfeso, em 431 d.C., e posteriormente no concílio de Calcedônia em 451 d.C. (gerando o chamado “cisma nestoriano”, onde as igrejas que apoiavam as ideias de Nestório se separaram do corpo da igreja). O conceito do nestorianismo se espalhou pela Ásia durante o século VII d.C., e permanece até hoje, principalmente em algumas denominações ligadas ao gnosticismo.


Eutiquianismo

O Eutiquianismo, também conhecido como monofisismo, deriva dos pensamentos de Eutiques, um presbítero que viveu no século V d.C. e que atuava em Constantinopla. Em linhas gerais, o eutiquianismo entende que Jesus e Cristo possui duas naturezas diferentes que se unem em uma só, com a natureza divina absorvendo a natureza humana e formando uma espécie de terceira natureza. Evidentemente, o maior erro doutrinário desta doutrina está em rejeitar a perfeita natureza humana de Cristo.

Esta corrente cristológica foi duramente condenada pela igreja e foi oficialmente considerada heresia no concílio de Calcedônia, em 451 d.C., ocasionando também um cisma com a ortodoxia oriental.

 

Quem é Jesus?

Créditos da imagem: Ingo Stiller

“Quem dizem os homens ser o filho do Homem?”

(Mateus 16:13b)

Um dos nomes mais conhecidos e falados em diversas denominações e religiões é o nome de Jesus Cristo. Muito se fala a respeito dele, porém, nem todo o mundo sabe de quem realmente se trata, e pior, em algumas situações são apresentadas versões distorcidas de um Jesus que não está nas Escrituras. Visando esclarecer teologicamente essa questão, neste artigo apresentaremos um resumo esquematizado sobre os principais aspectos de Jesus encontrados nas Escrituras.

Antes de mais nada devemos considerar que Jesus é um personagem histórico, e parte de sua vida está documentada no Novo Testamento, logo, é no texto neotestamentário que devemos nos embasar para conhecer quem de fato é Jesus Cristo. O texto bíblico é o documento que nos informa com precisão as suas características, seus objetivos e o seu ministério. Buscar conhecer Jesus através de material extra bíblico é como fazer um caminho na contramão cujo destino é incerto e duvidoso.

Por que é importante conhecer quem realmente é Jesus? Pelo simples fato de que Jesus é o fundamento da fé cristã, o Filho de Deus e o próprio Deus, o único meio de salvação e redenção e o intermediador entre Deus e o Homem. O entendimento equivocado de qualquer um desses aspectos implica em sérios erros doutrinários e teológicos.


Um breve contexto histórico

Para entendermos o papel e o significado de Jesus na história primeiro é necessário contextualizar e compreender o conceito de “messias” profetizado nas Escrituras desde o Antigo Testamento. Na verdade, todo o Antigo Testamento é um prenúncio da vinda de Cristo. Desde a queda do homem, em Gênesis, vemos que Deus promete que “o calcanhar da serpente será ferido” (Gênesis 3:15). Em Gênesis 12:3, Deus faz uma promessa a Abraão, anunciando que “nele, todas as famílias terra serão benditas”, promessa que está intimamente relacionada à obra redentora do messias, que seria um descendente de Abraão. Em diversas outras ocasiões na história dos hebreus vemos referências simbólicas que representam o messias, como no episódio que Abraão quase sacrificou Isaque (provendo o cordeiro substitutivo) e no rito da páscoa (Êxodo 12), que representava a ideia do cordeiro que tira o pecado do mundo.

Existem algumas profecias mais específicas a respeito do Messias, principalmente em Isaías, quando narra o drama do servo sofredor (Isaías 53), uma clara referência ao ministério de Jesus, ou quando profetiza sobre o seu nome “Emanuel, maravilhoso, conselheiro, Deus forte, Pai da Eternidade, Príncipe da paz” (Isaías 7:14; 9:6). O profeta Miqueias também profetizou que Jesus nasceria em Belém (Miqueias 5:2), e o profeta Ageu profetizou que a linhagem de Davi seria restaurada (Ageu 2:6-9).

Com base nesse histórico de profecias e simbologias, podemos entender basicamente que a figura do messias representava alguém que Deus havia prometido a Israel para restaurar seu povo, trazer paz às nações e reinar por toda a eternidade, dando continuidade à linhagem de Davi. Este alguém seria um cordeiro perfeito, entregue para ser sacrificado no lugar de todos os pecadores, para perdoar os seus pecados e restaurá-los, e para conduzi-los em santidade de volta aos caminhos do Senhor.


Principais características

Agora que compreendemos o significado do messias, sua importância e o seu papel nos planos de Deus para a história da humanidade, vamos elencar três dos principais aspectos de Jesus (teológicos e históricos) conforme a Bíblia nos apresenta: A sua humanidade, a sua divindade e o significado de seu sacrifício e ressurreição.

1) A humanidade de Jesus

Conforme vemos em João 1:14, “O verbo se fez carne e habitou entre nós”. A humanidade de Jesus era necessária para que ele, sendo “semelhante a seus irmãos” (Hebreus 2.17) pudesse ser oferecido como substituto pelos pecados de toda a humanidade, cumprindo a obra redentora de Deus. Nos evangelhos vemos todo o relato do nascimento milagroso de Jesus (Lucas 1:35), seu desenvolvimento humano (Lucas 2:52), suas limitações físicas (ele sentia fome, sede, cansaço), espirituais (dependia da oração para ter poder, conforme Marcos 1:35; necessitava da orientação de Deus, conforme Lucas 6:12-13), e a sua morte, seguida da sua ressurreição.

Jesus teve uma genealogia, uma família e uma profissão. Não há a menor dúvida da plena natureza humana de Jesus. Contudo, é importante esclarecer que Jesus tinha uma natureza humana perfeita, desprovida de pecado e plenamente santa (Hebreus 4:15 e João 8:46). Só assim ele poderia ser o cordeiro perfeito oferecido em sacrifício para Deus e o maior exemplo de vida que nós poderíamos ter (João 13:15).

2) A divindade de Jesus

Jesus tinha uma natureza perfeitamente humana, porém ele também era perfeitamente Deus. Em teologia, chamamos esse conceito de “natureza hipostática”, o que significa que Jesus tinha duas naturezas em essência, a humana e a divina. Em João 1:1 temos que “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.”, o que deixa claro que Jesus é Deus. Outros versículos também demonstram a divindade de Cristo, e inclusive é possível fazer um paralelo com citações do antigo testamento (como Apocalipse 1:17, fazendo uma referência a Isaías 41:4: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim”, e Filipenses 2:10-11 fazendo referência a Isaías 45:23: “Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.”).

Em João 10:33, os próprios perseguidores de Jesus entendiam que ele “estava se colocando no lugar de Deus”, motivo pelo qual tentaram apedrejá-lo e expulsá-lo do templo: “Não te apedrejamos por alguma obra boa, mas pela blasfêmia; porque, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo.”

Vemos que Jesus também apresentava as características exclusivas de Deus, muito embora limitado em sua vida terrena, ele era onisciente (em Apocalipse 2:23, Jesus declara que “sonda todos os corações” fazendo uma referência à declaração do próprio Deus em Jeremias 17:10. Ele também está capacitado para receber orações, como diz em João 14:14, e conforme vemos na comunidade cristã primitiva, que usava o nome de Jesus em suas orações, dirigindo a ele as suas súplicas (por exemplo, o caso de Estevão em Atos 7:59, os judeus que invocavam o nome de Jesus em Atos 9:14 e o próprio apóstolo Paulo em 2 Coríntios 12:8).

Versículos como João 5:19, Mateus 28:18 e Filipenses 3:21 declaram a onipotência do Filho de Deus, limitado apenas por uma questão permissiva do Pai. Ele tem poder para sujeitar todas as coisas aos seus pés. O próprio evangelho de João começa declarando que Jesus estava no princípio com Deus (caracterizando sua eternidade) e todas as coisas foram feitas por ele (João 1:3 e Colossenses 1:16). Jesus é, em sua natureza divina, onipotente. Porém, voluntariamente submisso ao Pai.

Por fim, temos alguns versículos que caracterizam a onipresença de Jesus. Em João 14:23, Jesus declara que virá ao coração de todo aquele que o ama, e Romanos 8:10 atesta essa verdade. Temos também passagens que evidenciam que Jesus está na igreja, como Mateus 18:20, onde ele mesmo diz que “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome aí estou eu no meio deles”.

Para complementar, cabe citar que em certas passagens Jesus recebeu e aceitou adoração. Somente se ele fosse verdadeiramente Deus poderia ser adorado. Logo no seu nascimento, os magos vieram de longe para adorá-lo (Mateus 2:11). Em Mateus 14:33, os seus discípulos o adoraram. E uma passagem muito famosa é a adoração de Tomé após contemplar o Cristo ressurreto, em João 20:28.

3) O significado de seu sacrifício e ressurreição

Sabendo que as Escrituras nos apresentam um Jesus que é perfeitamente humano e verdadeiramente Deus, digno de nossa adoração e intercessor de nossas orações, resta-nos conhecer o significado de sua missão aqui na Terra, que culminou com um acontecimento único na história da humanidade, e o mais importante de todos, que é o centro da mensagem do evangelho: A sua morte e ressurreição.

Em primeiro lugar, é necessário deixar claro que o sacrifício de Cristo na cruz não se tratou de um acidente histórico, ou de uma fatalidade política, ou o martírio por um ideal, ou, ainda, “apenas um grande ato de amor”, como é entendido por algumas religiões. Jesus cumpriu tudo aquilo que Deus havia planejado desde a eternidade (Atos 2:23, 4:27,28). É justamente por esse motivo que Jesus é designado como o cordeiro que foi morte desde a fundação do mundo (Apocalipse 13:8). A sua morte fazia parte do projeto de Deus para a redenção da humanidade.

Assim, entendemos que a morte de Jesus no calvário trouxe inestimáveis consequências. Dentre elas, podemos citar o perdão dos pecados de toda a humanidade, tendo em vista o caráter substitutivo de seu sacrifício. Jesus foi “feito pecado” em nosso lugar (2 Coríntios 5:21) e levou sobre si o pecado de todos nós (Isaías 53:5,6). Em sua morte, Jesus tornou-se o único mediador entre Deus e os homens (1 Timóteo 2:5) e, portanto, pelo Espírito Santo, temos livre acesso à presença de Deus (Efésios 2:18). Conforme está escrito em Isaías 59:1,2: “Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça.”, entendemos que havia uma separação que não permitia que o homem se aproximasse de Deus livremente. A passagem do véu do templo se rasgando durante a crucificação, como está registrado em Mateus 27:51, simboliza a abertura para o livre acesso a Deus, que até então era um privilégio restrito ao sumo sacerdote quando ingressava no “Santo dos Santos”.

Ademais, a morte de Jesus representou a destruição do domínio do pecado na vida do homem, possibilitando a sua redenção através da entrega de sua vida a Cristo, ao aceitá-lo como único e suficiente Senhor e Salvador pessoal. O pecado não pode mais dominar a vida de um cristão verdadeiro (Romanos 8:2,3 e 5). E não só o domínio do pecado foi vencido, mas houve a vitória definitiva sobre os poderes malignos, derrotando Satanás, seus demônios e todo o seu direito sobre este mundo: “E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo.” (Colossenses 2:15).

Através da ressurreição de Cristo, que representou a vitória definitiva sobre a morte (Apocalipse 1:18), foi possibilitada ao ser humano pecador a oportunidade de “estar em Cristo”, isto é, unido com ele em sua morte e ressurreição (2 Coríntios 5:17). Isso significa que, através do ato da conversão, o homem passa por um processo de ressurreição espiritual, tendo acesso a um vislumbre daquilo que lhe está preparado na vida eterna. Pode-se dizer que todos aqueles que aceitaram a salvação de Cristo foram “ressuscitados com ele” (Efésios 2:4,5).

Outro fato que a ressurreição outorga é a certeza de que nós também ressuscitaremos e venceremos a morte, assim como Cristo a venceu. Jesus é a prova de que a ressurreição é real, graças a ele, não devemos mais temer a morte.


Conclusão: Você conhece a Jesus?

Se você chegou até aqui, talvez seja um momento importante para você se perguntar se o Jesus que você pensa conhecer seja de fato o Jesus bíblico. Avalie se os seus conhecimentos coincidem com o que Deus nos revelou. Pois somente as Escrituras estão autorizadas a descrever Jesus com confiabilidade, considerando que grande parte dos relatos de seu ministério foram narrados por testemunhas oculares que conviveram com o próprio Cristo.

Neste artigo vimos que a Bíblia inteira trata sobre Jesus e sobre o plano de Deus para a redenção da humanidade. Jesus tem uma natureza perfeitamente humana, veio ao mundo de forma milagrosa e viveu como um ser humano normal, porém desprovido de pecado. Plenamente santo, foi um exemplo perfeito a ser seguido. Ele também é Deus, o Filho, e digno de adoração, todo poderoso, capaz de perdoar nossos pecados e interceder por nós. Jesus morreu sacrificialmente para nos salvar do domínio do pecado, levando consigo toda a nossa culpa e restaurando a nossa comunicação com Deus, nos dando livre acesso ao Pai.

Sua ressurreição nos deu esperanças de com Ele nós podemos vencer a morte e nos tornarmos plenamente santos, redimidos e livres da condenação eterna. Jesus pagou o preço por nós lá na cruz. Só precisamos reconhecer o significado do seu sacrifício e aceitá-lo como nosso Senhor e salvador pessoal.

A respeito do sábado

Créditos da imagem: Fa Barboza

“Lembra-te do dia do sábado, para o santificar.”

(Êxodo 20:8)

Em um momento onde seitas e heresias crescem e ganham um grande destaque e aceitação popular, é importante definir à luz das Escrituras certos conceitos doutrinários que são um tanto controversos. Um desses conceitos é o do sábado, ou “Dia do Senhor”. Muito defendido pelos adventistas e por outras vertentes judaizantes, é importante conhecer o que realmente a Bíblia nos diz sobre este dia, para não cairmos no erro de guardarmos um sábado sobrevalorizado, descaracterizado e contrário (ou distinto) ao seu conceito original.

Neste breve estudo, abordaremos três tópicos a respeito do tema:

  • Definição bíblica do sábado;
  • Compreensão do seu valor (sua real intenção e sua importância);
  • Questionamentos comuns sobre o sábado

 1) Definição bíblica do sábado

 O sábado (shabat), no sentido próprio da palavra, significa “descanso”. Ou seja, é um dia reservado para o descanso de todo e qualquer trabalho.  Vemos a primeira referência a este dia logo no relato da criação, em Gênesis 2:2: “E havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que fizera, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito.”. Deus “descansou” do trabalho de sua criação, mesmo sem haver necessidade disso, o fez para nos dar um exemplo que devemos descansar do trabalho semanal. 

Em seguida, o verso 3, diz: “E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que Deus criara e fizera.”. Aqui vemos que além de Deus ter descansado nesse dia, ele o abençoou e o santificou. Santificar significa reservar para Deus, separar do que é comum e tornar exclusivo para dedicação ao Senhor. Então com base nesses dois versículos já podemos ter uma boa ideia do que significa o sábado: É um dia de descanso de todo o trabalho semanal, e é um dia santo, dedicado exclusivamente ao Senhor.

 

2) Compreensão do seu valor

Agora que sabemos o que o sábado significa, precisamos em primeiro lugar compreender o seu sentido. Ou seja, qual era a intenção de Deus ao estabelecer o sábado. Já vimos que Deus santificou o sábado após “descansar”, então a ideia de Deus era a de que o homem pudesse ter um descanso do seu trabalho, e que assim pudesse ter foco e dedicação exclusiva às coisas de Deus. Pois o trabalho além de cansar, também distrai o homem, toma seu tempo, e não permite com que possa se dedicar integralmente ao Senhor. Deus estava preocupado com que o homem não se perdesse nas distrações da vida, e nem se sufocasse em seu próprio trabalho.

Tendo conhecimento da intenção do sábado ou melhor, do porquê ele foi estabelecido, podemos entender o seu valor e a sua importância na vida cristã. Aqui cabe ressaltar que o sábado é um mandamento que Deus nos determinou a ser cumprido desde tempos remotos, e inclusive está relacionado nos 10 mandamentos da Lei de Moisés. Em Êxodo 20:8, vemos que Deus nos diz: “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar”. Ou seja, é um dia importantíssimo para ser guardado com santidade.

Dando continuidade à leitura de Êxodo 20, entramos em um assunto um tanto controverso, principalmente por causa das vertentes judaizantes, como os adventistas. O sábado ao qual referem as Escrituras, necessariamente coincide com o sábado da semana do nosso calendário?

Bem, analisando o texto, vemos que:

“Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra.”

“Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas.”

“Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou.” (Êxodo 20:8-11)

Com base nessa leitura, entendemos que o sábado é um dia na semana, mas o texto não esclarece que especificamente correspondente ao sábado do nosso calendário (ou de qualquer outro calendário). Em suma, a mensagem que Deus nos transmite é que devemos separar um dia da semana para descansar do trabalho. Seja este dia o sábado, o domingo, ou qualquer outro dia. O conceito do sábado é que deve ser respeitado, que é guardar um dia para descanso e santificação ao Senhor.

Por último, é necessário compreender que o sábado, muito embora seja um mandamento divino, não deve ser sobrevalorizado. Isto é, não devemos atribuir ao sábado qualquer finalidade salvífica (ninguém será salvo apenas por guardar os sábados), e tampouco sobrepor (ou complementar) seu valor ao valor do sacrifício de Cristo. Importa mais obedecer a Cristo do que seguir cegamente a lei. Como o próprio Jesus menciona em Marcos 2, quando os fariseus questionaram o fato de seus discípulos estarem colhendo espigas no sábado. Vemos que homem não deve se tornar refém do sábado, como o texto bíblico de Marcos 2:27 nos diz: “O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado.” Nessa passagem, Jesus estava afirmando que o sábado foi estabelecido para benefício do homem, e no versículo seguinte deixa clara a sua soberania sobre o sábado (Marcos 2:28, também em Mateus 12:8 e Lucas 6:5)

3) Questionamentos comuns sobre o sábado

Aqui estaremos relacionando algumas perguntas comuns sobre o assunto, a fim de resumir a nossa compreensão sobre tudo o que foi apresentado neste artigo.

Pergunta 1: “Devemos guardar o sábado?”

Resposta: Sim. O sábado foi estabelecido para nosso benefício pessoal, o descanso do trabalho e dedicação ao Senhor. É um mandamento divino para o nosso cuidado.

Pergunta 2: “O que devemos fazer no sábado?”

Resposta: Descansar do nosso trabalho secular, e evitar focar em qualquer outra coisa que não seja a nossa adoração a Deus. É um dia santo, ou seja, separado para dedicação ao Senhor.

Pergunta 3: “O sábado que a bíblia menciona, é o mesmo sábado do nosso calendário?”

Resposta: Não necessariamente. Qualquer dia da semana pode cumprir a intenção do sábado. O sábado é um conceito estabelecido por Deus.

Pergunta 4: “Se eu guardar o sábado fielmente, serei salvo?”

Resposta: Não. A salvação é somente através da graça e do sacrifício de Cristo.

Pergunta 5: “Peco por não guardar o sábado?”

Reposta: Depende do contexto. Na própria Bíblia encontramos circunstâncias em que o sábado não foi seguido à risca da lei, e mesmo assim não houve reprovação da parte de Deus. O próprio Jesus, que citou o exemplo do rei Davi e defendeu seus discípulos da repreensão dos judeus, também curava no sábado. Não devemos deixar de guardar o sábado intencionalmente, mas se for necessário realizar algo para a honra e glória de Deus nesse dia, importa que o façamos primeiro.

O que é ser “cristão”?

Créditos da imagem: Nguyen Thu Hoai

“E aquele que guarda os seus mandamentos nele está, e ele nele. E nisto conhecemos que ele está em nós, pelo Espírito que nos tem dado.”

(1 João 3:4)

Autodenominar-se “cristão” é um costume bastante comum e popular nos dias de hoje. Independente de qual seja a denominação específica (batista, pentecostal, presbiteriano, luterano, católico, etc.), “ser cristão” é um título facilmente sustentado e por muitos, que de forma geral identifica um grupo de pessoas que acredita em Deus e no ministério de Jesus Cristo. 

Os costumes e a popularidade, combinados com a falta de informação e a influência de doutrinas estranhas muitas vezes são fatores determinantes que contribuem para afastar um conceito de seu entendimento inicial.  E não poderia ser diferente com o conceito de cristianismo, que chegou ao ponto de se tornar vulgarizado. Às vezes inclusive temos a impressão de que “todo o mundo é cristão”.

Sabemos que muitos por aí se dizem cristãos, mas, o que realmente significa ser cristão? Em que consiste o cristianismo? Será que a definição original deste conceito não foi perdida ou deturpada? E o mais importante: Estamos vivendo um cristianismo verdadeiro? Vamos esclarecer esses questionamentos neste artigo e refletir sobre o assunto. 

Em primeiro lugar, vamos começar definindo o conceito de “cristão”. Cristão é todo aquele que segue a Cristo, isto é, que além de reconhecer a sua divindade e o seu sacrifício na cruz, e além de aceitar o seu senhorio absoluto, conhece e pratica os seus mandamentos. Ou seja, ser cristão não é apenas um título, e muito menos uma denominação que as pessoas escolhem por conveniência. É prática e vivência nas doutrinas de Cristo. É ser um verdadeiro discípulo. 

A bíblia nos revela exatamente o momento em que o termo “cristão” começou a ser aplicado. Em Atos 11:26, lemos que “E sucedeu que todo um ano se reuniram naquela igreja, e ensinaram muita gente; e em Antioquia foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos.”. Ou seja, os primeiros cristãos eram os próprios discípulos de Cristo. Eles guardavam e viviam os mandamentos de Deus, e os ensinavam, levando outras pessoas a conhecer a verdade da salvação e fazendo novos discípulos. 

Ser discípulo de Jesus é muito mais do que apenas conhecer o seus mandamentos e praticar uma série de “rituais” religiosos (como frequentar uma igreja, ler a bíblia, dizimar, jejuar, etc.) . É conhecer os mandamentos, aplicar o que foi ensinado e viver continuamente pela causa de Cristo. Como diz o texto em 1 João 2:3: “E nisto sabemos que o conhecemos: se guardarmos os seus mandamentos.”

O cristão que realmente guarda os mandamentos, tem como maior preocupação pessoal levar a palavra de Deus ao mundo e fazer, orientar e ensinar novos discípulos de Cristo, conforme está escrito em Mateus 28:19,20: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; (…)”

Para que alguém se torne discípulo de Cristo, é necessário que exista um verdadeiro relacionamento pessoal com Ele, e deve ser um relacionamento motivado pelo amor e não por mera religiosidade, conveniência ou medo.  Em João 14:15, o próprio Senhor os orienta que a obediência aos seus mandamentos é fruto do amor genuíno que sentimos por Ele quando nos diz que “Se me amais, guardai os meus mandamentos.”

Por fim, o melhor exemplo que nós temos para definir em que consiste a vida cristã está na própria igreja primitiva. Está nos primeiros discípulos, conforme a Bíblia deixa bem claro. Ser discípulo de Cristo implica em renunciar aos desejos deste mundo: “Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo.” (Lucas 14:33). Também implica em ter uma vida benigna que exale o amor ao próximo, “Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros” (João 13:35) e estar disposto a enfrentar a perseguição deste mundo por causa de Cristo: “Para isso vocês foram chamados, pois também Cristo sofreu no lugar de vocês, deixando exemplo, para que sigam os seus passos.” (1 Pedro 2:21)

Oremos para que Deus nos use como verdadeiros discípulos de Cristo, guardando e vivendo os seus mandamentos, e que através de nós a obra do Senhor possa ser realizada. Que a luz de Deus possa ser refletida ao mundo, levando a Verdade aos corações perdidos e despertando novos discípulos para Cristo, para honra e glória do nosso Senhor Jesus.

“Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus.” (Mateus 5:16)