
“Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia.”
(Hebreus 10:25)
É normal, durante a nossa caminhada na fé, passarmos por momentos onde desanimamos de frequentar igrejas e de estarmos integrados em uma comunidade adorando e servindo a Deus em cultos semanais. Seja durante os primeiros anos de conversão ou mesmo num período de maturidade posterior, tal desânimo é algo que todo cristão eventualmente pode enfrentar. Às vezes, o motivo desse desânimo pode acontecer pelo fato de não encontrarmos uma igreja na qual nos identificamos, seja por questões doutrinárias, cerimoniais, espirituais ou até mesmo sociais. Por conseguinte, o afastamento da congregação acaba acontecendo. Claro que, não estamos nos referindo aqui a pessoas que desistiram definitivamente de congregar por achar “desnecessário” ou por achar que “não existe igreja boa”, esse é um caso bem mais sério que deve ser avaliado em outro estudo. Os alvos desta reflexão são os cristãos que estão num período de “desânimo e reclusão congregacional”, considerando que seja uma situação temporária durante caminhada cristã.
Cabe ressaltar também que, com o advento da internet e a popularidade das plataformas de redes sociais, tem se tornado cada vez mais frequente a inclusão do cristão em comunidades virtuais, o que por um lado tem seus aspectos positivos (como segurança e comodidade, principalmente em questões logísticas), mas, por outro lado, também pode acabar esvaziando a presença dos membros nos cultos presenciais. Acaba havendo um desencorajamento, mesmo que indiretamente e involuntariamente, do engajamento e participação do cristão na congregação. Apesar de ser possível “congregar virtualmente” (e muitas igrejas hoje em dia transmitem seus cultos através de plataformas de streaming) e acompanhar as atividades da igreja pela internet (e até mesmo socializar com os irmãos), frequentar os cultos e estar presencialmente na comunidade ainda é (e não deixará de ser) uma questão sumamente importante.
Diante do panorama mencionado, que atitude o cristão deve tomar para reagir a uma situação de desânimo e consequente afastamento da igreja? Desistir de congregar definitivamente, conformando-se no isolamento não é uma opção. Substituir a congregação presencial por uma virtual tampouco parece ser o melhor caminho. O cristão deve persistir na busca de uma maneira de voltar a congregar. E o primeiro passo é se conscientizar do valor intrínseco dos bons e velhos costumes. Não é por acaso que os cristãos se reúnem em comunhão desde os primórdios da igreja primitiva, e assim foi durante toda a história da igreja. Há um valor muito importante na conservação dessa tradição. Assim sendo, estaremos apresentando a seguir cinco motivos para frequentar uma igreja, motivos que não podem ser ignorados ou substituídos por alternativas. E, mais importante ainda: e não apenas motivos embasados nas Escrituras. Afinal, sempre que estamos desorientados durante a nossa caminhada na fé devemos imediatamente nos voltar para as Escrituras e ouvir o que a Palavra de Deus tem para nos dizer a respeito.
Motivo n°1: Desenvolver seus dons espirituais
Como cristãos, somos guiados pelo Espírito Santo, que distribui os dons espirituais “particularmente a cada um como quer” (1 Coríntios 12:11) com o propósito de edificar os membros do corpo para o serviço na obra de Deus. Segundo o comentário de 1 Coríntios 12 na Bíblia de Estudo Scofield: “A cada cristão é dado um dom, uma capacidade para um serviço específico. Ninguém carece desse dom, mas, ao distribuir os dons, o Espírito age com total soberania” (página 1064).
Os dons do espírito trabalham no sentido coletivo (ou seja, para edificar a igreja) e não num sentido individual (para edificação do próprio cristão). É errado pensar que é possível desenvolver plenamente os dons espirituais isolando-se da congregação (1 Coríntios 12:14). O cristão é membro de um corpo num sentido bastante estrito, inseparável, e justamente por isso precisa estar em contato com as outras partes do corpo (1 Coríntios 12:21). Assim, os cristãos devem se apoiar mutuamente através dos dons do Espírito (1 Coríntios 12:25), o que fica muito difícil de acontecer se o cristão está afastado da congregação ou apenas assistindo a cultos virtualmente.
O apóstolo Paulo faz uma excelente analogia do Corpo de Cristo com o corpo humano (1 Coríntios 12:15-17). É preciso que todos os membros estejam interligados e convivendo juntos para que o corpo funcione. Essa comunhão só acontece plenamente através um ambiente congregacional. Alguns dons, inclusive, só podem ser exercidos se houver uma congregação organizada, como os dons ministeriais.
A preocupação por descobrir os dons espirituais e exercê-los com eficiência deve sempre estar presente em algum momento da caminhada cristã (1 Coríntios 12:31). Afinal, somos ferramentas a serviço do nosso Senhor, nossa missão como servos de Cristo é edificar a igreja e evangelizar (Mateus 28:18-20). É preciso tomar cuidado para que o afastamento da congregação e um consequente período de reclusão prolongado não esfrie essa prioridade na vida cristã.
Motivo n°2: Participar da Ceia do Senhor
A Ceia do Senhor é um memorial importantíssimo na vida cristã que deve ocorrer periodicamente na igreja (1 Coríntios 11:25). Seu propósito fundamental é recordar o sacrifício de Jesus na cruz, assim como também obedecer às suas ordenanças e renovar as esperanças de sua segunda volta. É um momento de reflexão e também de comunhão com os irmãos em Cristo. Os elementos envolvidos na celebração são simbólicos (o pão representa o corpo de Cristo, o vinho representa o seu sangue derramado na cruz). Apesar de haver certas divergências de interpretação quanto ao entendimento substancial do pão e do vinho, é de comum aceitação que a Ceia do Senhor deve ser realizada preferencialmente em um momento de confraternização entre os irmãos em Cristo e não isoladamente (1 Coríntios 11:20).
Os cristãos se reúnem para celebrar o memorial da Ceia desde os tempos da igreja primitiva, ou seja, é uma prática que desde a sua origem se aplica a um contexto comunitário, como pode ser visto em 1 Coríntios 11 do versículo 20 em diante. Esse trecho de 1 Coríntios inclusive é bem interessante pois o apóstolo Paulo faz uma distinção clara entre comer com o propósito de se alimentar e realizar a Ceia do Senhor. O memorial não tem a finalidade de alimentação física, coisa que pode ser feita em qualquer lugar (em casa, como o apóstolo sugere no versículo 22), mas tem a finalidade espiritual, e que só pode acontecer no contexto da congregação (repare que o apóstolo não sugere que a Ceia possa ser celebrada em algum outro contexto senão durante as reuniões dos irmãos, como nos versículos 33 e 34).
Motivo n°3: Participar de eventos sociais e campanhas de evangelismo
A igreja não atua apenas internamente para edificar os membros do corpo de Cristo, mas também para beneficiar a sociedade com programas de ação social que muitas vezes abrem portas para o evangelismo (Tiago 2:14-17 e Atos 20:35). Tais programas sociais são organizados e contemplados de forma mais abrangente e elaborada se houver uma congregação reunida planejando-os, incentivando-os e sustentando-os. O aspecto assistencialista da igreja na sociedade está presente desde a sua origem, pois no Novo Testamento encontramos vários exemplos de cristãos e igrejas que se envolviam com diversos serviços cristãos na sociedade. O apóstolo Paulo cita em suas epístolas a organização de coletas que eram realizadas nas igrejas para ajudar os irmãos necessitados, exaltando essa atitude e expressando sua importância no caráter cristão (1 Coríntios 16:1 e Romanos 15:26). Indiscutivelmente, fazer o bem a todos é um reflexo da natureza cristã (Gálatas 6:10).
É importante destacar que os eventos sociais acabam servindo como instrumento de testemunho, evangelização e realização do trabalho missionário, levando a palavra de Deus a pessoas necessitadas através de diversos auxílios promovidos pela igreja. É um trabalho de campo importantíssimo que pode atuar em muitas esferas da comunidade (por exemplo, distribuição de cestas básicas e roupas, distribuição de folhetos e bíblias, transmissão de filmes evangelísticos, cultos ao ar livre, etc.). Isolado ou envolvido apenas virtualmente com a igreja, o cristão acaba encontrando certas barreiras para se envolver mais ativamente na comunidade, e consequentemente sua participação em eventos sociais e no trabalho missionário acaba sendo comprometida.
Motivo n°4: Fortalecer a comunidade cristã
O autor da carta aos Hebreus nos alerta a não deixarmos a congregação, mas que permaneçamos nos admoestando mutuamente (Hebreus 10:25). Quando estamos engajados em uma comunidade cristã, temos uma oportunidade muito maior de fortalecer os laços de comunhão com os irmãos em Cristo, e não apenas na confraternização durante os cultos e eventos da igreja, mas visitando lares, ajudando em questões pessoais, aprofundando a fraternidade em momentos de lazer, etc. Considerando que o cristão deve preferencialmente buscar amizades que partilhem da mesma fé (Salmo 26:4), o melhor lugar para encontrar bons amigos é socializando na igreja, participando da congregação. Cristãos convivendo em união compõem uma comunidade fortalecida em Cristo (Mateus 18:20), e a socialização estimula os bons costumes, o amor e as boas obras (Hebreus 10:24).
O incentivo à admoestação de Hebreus 10:25 não pode ser de forma alguma desconsiderado. Somente através do convívio com os irmãos em Cristo é possível ensinar com clareza e precisão, corrigir erros doutrinários, repreender práticas pecaminosas, prestar aconselhamento e promover encorajamento espiritual (Atos 15:32, 2 Timóteo 4:2 e Tito 2:6). Viver um cristianismo “isolado” expõe o cristão a muitos perigos espirituais e doutrinários, e aos maus costumes. Resumindo, a comunidade cristã se fortalece em todos os sentidos quando os membros do Corpo de Cristo interagem entre si buscando alinhamento dentro do padrão de Deus.
Motivo n°5: Ampliar seus conhecimentos bíblicos e doutrinários
Apesar de ser perfeitamente possível (e necessário) estudar teologia e se aprofundar nos conhecimentos bíblicos e doutrinários no conforto de sua casa, existem diversas atividades na igreja que possibilitam ampliar e consolidar a nossa bagagem teológica. A Escola Bíblia Dominical (Comumente chamada de EBD) é um espaço precioso para o aprendizado tanto teórico quanto prático, além de ser possível tirar dúvidas em tempo real com professores capacitados e realizar exercícios de fixação que desafiam a comodidade do cristão. A EBD não pode ser substituída por eventos online ou simplesmente retirada da grade de atividades de uma igreja boa. Sua existência estimula a busca pelo conhecimento ao mesmo tempo em que desenvolve de forma prática a vida cristã.
Também existe a possibilidade de tirar dúvidas diretamente com o pastor da igreja (que em tese deveria ser um cristão com formação teológica e um vasto conhecimento bíblico), aprender com os sermões dominicais, participar de congressos e seminários (que muitas vezes acontecem no próprio salão de culto da igreja), etc. Por mais que atualmente o acesso à teologia tenha se “popularizado” na internet e exista uma infinidade de meios para obter conteúdo teológico e doutrinário, o melhor lugar para formar mentes teológicas dentro da sã doutrina é na igreja. Um o cristão que não se envolve com as atividades da igreja que promovem conhecimento teológico é um cristão limitado, com crescimento espiritual lento e exposto a todo tipo de informação de procedência duvidosa.
Conclusão – Tempo de reflexão
Agora que já apresentamos cinco bons motivos para voltar a frequentar uma igreja regularmente, convidamos ao leitor (independentemente de estar ou não passando por uma fase de afastamento da congregação) a repensar a sua vida espiritual e refletir a respeito de seu papel dentro do Corpo de Cristo. Talvez esteja na hora do seu retorno à comunidade cristã, talvez seja o momento de uma mudança na sua rotina de vida, ou talvez seja necessário continuar procurando uma boa igreja, ou até mesmo incentivar outros irmãos em Cristo a se envolver mais na obra de Deus. De qualquer maneira, levante esses questionamentos a Deus em suas orações pessoais. Não desista de procurar um bom lugar para congregar, não rejeite os bons costumes que consolidaram o cristianismo desde a sua origem, não se acomode com suas limitações e dificuldades.
O verdadeiro cristão sente a necessidade de estar em comunhão com seus irmãos na fé, pois ele faz parte do Corpo de Cristo, que é um corpo unido cujos membros trabalham em conjunto, onde ninguém é dispensável ou inferior e todos trabalham para a cabeça, que é Cristo (1 Coríntios 12:21-22). Um cristão isolado dificilmente vai se desenvolver plenamente segundo o propósito de Deus, pois Ele quer que trabalhemos juntos em Seu reino (1 Coríntios 12:18).
“O batismo com o Espírito dá forma ao corpo unindo os crentes em Cristo, a Cabeça ressuscitada e glorificada, e unindo-os também uns aos outros.” (Comentário da Bíblia Scofield, página 1063)
Referências
Estudo sobre a Santa Ceia do Senhor Bíblia On. Disponível em: <https://www.bibliaon.com/estudo_sobre_santa_ceia_do_senhor_o_que_a_biblia_ensina/>. Acesso em: 12 abr. 2023.
O que são e quais são os dons espirituais? Estilo Adoração. Disponível em: <https://estiloadoracao.com/quais-sao-os-dons-espirituais/>. Acesso em: 11 abr. 2023.
BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Scofield. Almeida Corrigida e Fiel. São Paulo: Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 2009.